SOCIOLOGIA
- Texto 6 – Introdução ao Processo sociológico do Brasil
O processo sociológico brasileiro foi
se acontecendo à medida que o país foi entrando num processo de modernização.
Ressaltamos, no entanto, que no Brasil esse processo se deu tardiamente.
Um primeiro passo para que esse
processo se efetivasse foi a Independência do Brasil, ocorrido em 1822. Para
que o país pudesse se desenvolver à modelo da Europa, precisava ser
desvinculado dos patrícios portugueses e galgar um caminho se valendo dos seus
próprios recursos, que não eram poucos, mas mal administrados.
No entanto, o Brasil do século XIX,
precisava adotar medidas mais drásticas para poder consolidar o capitalismo no
país, e assim, poder se modernizar, constituindo assim uma sociedade inspirada
na sociedade européia. Acontece que só no ano de 1850, algumas dessas medidas
saíram do papel e se efetivaram. Como as mais importantes, podemos destacar
três: a) O fim do tráfego negreiro (uma vez que a escravidão apresentava o
maior empecilho para a constituição social do país); b) A criação do Banco
Central (uma vez que o país queria se engajar no capitalismo); e a promulgação
da lei comercial (sendo que o comércio precisava ser efetivado).
Os protagonistas desses episódios foram
os intelectuais. Os intelectuais eram pessoas comuns, de boas famílias, que
tiveram o privilégio de estudar fora do país. Dessa forma, puderam trazer para
cá, os ideais das revoluções sociais que estavam acontecendo na Europa,
fomentando assim, a necessidade de uma mudança no cenário nacional.
A maioria dos intelectuais eram
professores, médicos, literatos, e até mesmo padres.
A maior luta desses homens esclarecidos
consistiu na questão da abolição da escravatura, que só se efetivou em 1888,
tarde mais num país com a dimensão, potencial e ideal que tinha o Brasil da
época.
Todo esse processo aponta para uma
difícil questão: a de uma identidade brasileira. Identidade aqui, no sentido de
pertencimento a um povo ou país. Um dos intérpretes de nossa sociedade, Sérgio
Buarque de Holanda, chama a atenção em sua obra Raízes do Brasil, para o fato de sermos desterrados em nossa
própria terra, evidenciando o ideal europeu enraizado pelos intelectuais que
lutaram pela modernização do Brasil, e, conseqüentemente, para a constituição
da sociedade da maneira como a conhecemos hoje.
Escreve Sérgio Buarque de Holanda:
[..]Trazendo de países distantes nossas formas de
convívio, nossas instituições, nossas ideias, e timbrando em manter tudo isso
em ambiente muitas vezes desfavorável e hostil, somos ainda hoje uns
desterrados em nossa terra. Podemos construir obras excelentes, enriquecer
nossa humanidade de aspectos novos e imprevistos, elevar à perfeição o tipo de
civilização que representamos: o certo é que todo o fruto do nosso trabalho ou
de nossa preguiça parece participar de um sistema de evolução próprio de outro
clima e de outra paisagem[...] (2002, p.31).
O trecho supracitado mostra a
preocupação do autor pelos costumes apresentado pelos ideais dos intelectuais
na busca pela modernização brasileira. Mesmo o nosso trabalho, ou a falta dele,
parece participar de outra paisagem. Ou seja, nossa inspiração nas potências
européias, como efeito colateral, nos afastou de uma constituição própria de
identidade.
Paralelamente a isso, ainda havia o
pensamento conservador do senhor de engenho, que incapaz de entender o que o
país precisava (uma vez que estava preso na ideia de lucro com a mão de obra
escrava) relutava a aderir à abolição, atrasando dessa forma todo o processo.
Com isso, sobretudo depois da abolição,
a configuração social brasileira ganhou elementos que não condiziam com a
situação da época. Escravos que foram simplesmente largados, sem o subsídio
necessário para seu crescimento social, crescimento este que levaria também o
crescimento do Brasil rumo à modernização e a consolidação do capitalismo.
Ávido demais em crescer, o Brasil se
declarou Republica, conquistando assim, não a modernização almejada, mas os
primeiros déficits sociais, numa
ilusória constituição moderna. Num panorama histórico de conflitos de ideais,
se deu a base para a realidade social que permeou e se fixou no país, lançando,
dessa maneira, configuração da nossa sociedade.
Dicas
de Leitura:
-
Raízes do Brasil – Sérgio Buarque de
Holanda.
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