terça-feira, 14 de fevereiro de 2012


SOCIOLOGIA - Texto 6 – Introdução ao Processo sociológico do Brasil



O processo sociológico brasileiro foi se acontecendo à medida que o país foi entrando num processo de modernização. Ressaltamos, no entanto, que no Brasil esse processo se deu tardiamente.

Um primeiro passo para que esse processo se efetivasse foi a Independência do Brasil, ocorrido em 1822. Para que o país pudesse se desenvolver à modelo da Europa, precisava ser desvinculado dos patrícios portugueses e galgar um caminho se valendo dos seus próprios recursos, que não eram poucos, mas mal administrados.

No entanto, o Brasil do século XIX, precisava adotar medidas mais drásticas para poder consolidar o capitalismo no país, e assim, poder se modernizar, constituindo assim uma sociedade inspirada na sociedade européia. Acontece que só no ano de 1850, algumas dessas medidas saíram do papel e se efetivaram. Como as mais importantes, podemos destacar três: a) O fim do tráfego negreiro (uma vez que a escravidão apresentava o maior empecilho para a constituição social do país); b) A criação do Banco Central (uma vez que o país queria se engajar no capitalismo); e a promulgação da lei comercial (sendo que o comércio precisava ser efetivado).

Os protagonistas desses episódios foram os intelectuais. Os intelectuais eram pessoas comuns, de boas famílias, que tiveram o privilégio de estudar fora do país. Dessa forma, puderam trazer para cá, os ideais das revoluções sociais que estavam acontecendo na Europa, fomentando assim, a necessidade de uma mudança no cenário nacional.

A maioria dos intelectuais eram professores, médicos, literatos, e até mesmo padres.

A maior luta desses homens esclarecidos consistiu na questão da abolição da escravatura, que só se efetivou em 1888, tarde mais num país com a dimensão, potencial e ideal que tinha o Brasil da época.

Todo esse processo aponta para uma difícil questão: a de uma identidade brasileira. Identidade aqui, no sentido de pertencimento a um povo ou país. Um dos intérpretes de nossa sociedade, Sérgio Buarque de Holanda, chama a atenção em sua obra Raízes do Brasil, para o fato de sermos desterrados em nossa própria terra, evidenciando o ideal europeu enraizado pelos intelectuais que lutaram pela modernização do Brasil, e, conseqüentemente, para a constituição da sociedade da maneira como a conhecemos hoje.

Escreve Sérgio Buarque de Holanda:

[..]Trazendo de países distantes nossas formas de convívio, nossas instituições, nossas ideias, e timbrando em manter tudo isso em ambiente muitas vezes desfavorável e hostil, somos ainda hoje uns desterrados em nossa terra. Podemos construir obras excelentes, enriquecer nossa humanidade de aspectos novos e imprevistos, elevar à perfeição o tipo de civilização que representamos: o certo é que todo o fruto do nosso trabalho ou de nossa preguiça parece participar de um sistema de evolução próprio de outro clima e de outra paisagem[...] (2002, p.31).  



O trecho supracitado mostra a preocupação do autor pelos costumes apresentado pelos ideais dos intelectuais na busca pela modernização brasileira. Mesmo o nosso trabalho, ou a falta dele, parece participar de outra paisagem. Ou seja, nossa inspiração nas potências européias, como efeito colateral, nos afastou de uma constituição própria de identidade.

Paralelamente a isso, ainda havia o pensamento conservador do senhor de engenho, que incapaz de entender o que o país precisava (uma vez que estava preso na ideia de lucro com a mão de obra escrava) relutava a aderir à abolição, atrasando dessa forma todo o processo.

Com isso, sobretudo depois da abolição, a configuração social brasileira ganhou elementos que não condiziam com a situação da época. Escravos que foram simplesmente largados, sem o subsídio necessário para seu crescimento social, crescimento este que levaria também o crescimento do Brasil rumo à modernização e a consolidação do capitalismo.

Ávido demais em crescer, o Brasil se declarou Republica, conquistando assim, não a modernização almejada, mas os primeiros déficits sociais, numa ilusória constituição moderna. Num panorama histórico de conflitos de ideais, se deu a base para a realidade social que permeou e se fixou no país, lançando, dessa maneira, configuração da nossa sociedade.



Dicas de Leitura:

- Raízes do Brasil – Sérgio Buarque de Holanda.

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