Filosofia –
Texto 4 – Antecedentes da Metafísica – Pré-socráticos
2º Parte
Dois
Caminhos para Filosofia:
O Cenário das investigações filosóficas, no século V
a.C. (devido a guerra contra a Pérsia), dividi-se em dois. Um deles passa a ser
Éfeso, na Grécia asiática; e outro, Eléia, ao sul da Itália. São duas
extremidades opostas no mundo grego, como que simbolizando as duas direções que
o pensamento filosófico veria a tomar.
Essas “direções” eram mediadas pela mesma pergunta que
os primeiros filósofos de Mileto fizeram, ou seja, se existe um princípio único
que explique todas as coisas do mundo em seus diversos aspectos.
Em Éfeso, a resposta viria de Heráclito, dizendo que
os contrários formam uma unidade. Em Eléia, a resposta viria de Parmênides,
dizendo que os contrários jamais podem coexistir.
Heráclito de
Éfeso (540-480 a.C.): Para este
filósofo nascido em Éfeso, o mundo explicava-se justamente pelos seus aspectos
contraditórios de mudança, de transformação. Para ele, a harmonia nascia da
própria oposição.
A divergência e a contradição não só produzem a
unidade do mundo, mas também a sua transformação. O mundo é um eterno fluir,
como um rio. Fluxo contínuo de mudanças, o mundo é como um fogo sempre eterno,
sempre vivo.
Heráclito concebia a realidade do mundo como algo
dinâmico, em permanente transformação. Daí sua escola filosófica ser chamada de
mobilista (de movimento). Para ele, a
vida era um fluxo constante, impulsionado pela luta de forças contrárias: a
ordem e a desordem, o bem e o mal, o belo e o feio, a construção e a
destruição, a justiça e a injustiça, o racional e o irracional, a alegria e a
tristeza etc. Assim, afirmava que a “a luta (guerra) é a mãe, rainha e
princípio de todas as coisas”. É pela luta das forças opostas que o mundo se
modifica e evolui.
Levando isso em consideração, Heráclito imaginava a
realidade dinâmica do mundo sob a forma do Fogo,
com chamas vivas e eternas, governando o constante movimento dos seres. Este fogo, a qual Heráclito considera o
elemento primordial de todas as coisas existentes, é um elemento simbólico que
representa a Razão, o Logos, que
percebia o devir gerando uma harmonia
dos contrários.
“Não podemos entrar duas vezes no mesmo rio, pois suas
águas se renovam a cada instante. Não tocamos duas vezes o mesmo ser, pois este
modifica continuamente sua condição”.
É
interessante notar, que esta ontologia heraclitiana prega uma impossibilidade
de conhecimento de si mesmo, uma vez que estamos em constante mudança.
Parmênides
de Eléia (540-450): Ao contrário de
Heráclito, Parmênides procura eliminar tudo o que seja variável e
contraditório. Se uma coisa existe, ela é esta coisa e não pode ser outra,
muito menos o seu contrário. Uma árvore é uma árvore, o sol é o sol, o homem é
o homem, o que é é o que é. Em outras palavras, o ser é o ser, ou
resumidamente, o ser é. Segue-se
logicamente que não-ser não é, não pode existir.
Se só o ser
existe, o ser deve sempre existir.
Deve ser único, imóvel, imutável, sem variações, eterno. Mas o que seriam então
as constantes mudanças, as contradições e os aspectos diferentes que o mundo
apresenta? São ilusões, responde Parmênides, meras aparências produzidas por
opiniões enganadoras (dóxa – doxa), não pelo conhecimento do verdadeiro Ser (alétheia – aletheia).
Esse pensamento inaugura a metafísica (por não se contentar com a aparência das coisas e
buscar algo que estaria “por trás” dessa aparência física, ou seja, a essência)
e a lógica (o princípio da não-contradição existente no ser que é, e o no não-ser que não-é). Para Parmênides, o mundo dos sentidos, por estar condicionada
às variações dos fenômenos observados e das sensações, da origem a incerteza e
a opiniões diversas. Por isso, o conhecimento não pode ser alcançado por esse
caminho, e sim pela certeza que a razão produz por meios lógicos e dedutivos.
Parmênides, assim, defendia a existência de dois
caminhos para a compreensão da realidade. O primeiro é o da filosofia, da
razão, da essência. O segundo é o da crendice, da opinião pessoal, da aparência
enganosa, que ele considerava a “via de Heráclito”.
Segundo Parmênides, o caminho da essência nos leva a
concluir que na realidade:
a) Existe o ser, e não é concebível sua não-existência;
b) O Ser é; o não-ser não é.
Em vista disso, Parmênides é considerado o primeiro
filósofo a formular os princípios lógicos de identidade e de não contradição,
desenvolvidas depois por Aristóteles.
Ao refletir sobre o ser, pela via da essência, o
filósofo eleata concluiu que o ser é
eterno, único, imóvel e ilimitado. Essa seria a via da verdade pura, a via a
ser buscada pela ciência e pela filosofia. Por outro lado, quando a realidade é
pensada pelo caminho da aparência, tudo se confunde em função do movimento, da
pluralidade e do devir (vir a ser).
Dessa forma, na concepção de Parmênides, Heráclito
teria percorrido o caminho das aparências ilusórias. Essa via precisava ser
evitada para não termos que concluir que “o
ser e o não-ser são e não-são a mesma coisa”. Parmênides teria descoberto,
assim, os atributos do ser puro: o ser ideal do plano lógico. E negou-se a
reconhecer como verdadeiros os testemunhos ilusórios dos sentidos e a constatar
a existência do ser-no-mundo: o ser
que se exprime de diversos modos, os seres múltiplos e mutáveis.
Mas o filósofo sabia que no mundo da ilusão, das aparências e das sensações que os homens vivem
seu cotidiano. Então, “o mundo da ilusão não é uma ilusão de mundo” mas uma
manifestação da realidade que cabe à razão interpretar, explicar e compreender,
até que alcance a essência dessa realidade. Não podemos confiar nas aparências,
nas incoerências, na visão enganadora. Pela razão, devemos buscar a essência, a
coerência e a verdade. O esforço de toda a sabedoria é, pois , para Parmênides,
sistematizar isso, tornar pensável o caos, introduzir uma ordem nele.
Bibliografia
Consultada
- História da
Filosofia. Organização e texto final de Bernadette Siqueira Abrão. Editora
Nova Cultura, 2004.
Dicas de
Leitura:
- O Queijo e
os Vermes – Carlo Ginzburg
- O Velho e o
Mar – Ernest Hemingway
- A arte da amar
– Ovídio.
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