segunda-feira, 5 de novembro de 2012


A Desconstrução do Sujeito e da Realidade:
Freud e a Psicanálise

Prof. Maicon Martta

Nietzsche com suas análises profundas sobre a natureza humana mostrou que nem sempre a razão governa nossas ações. É a Vontade de poder, que para Nietzsche, rege essa condição. É a superação de si mesmo e de tudo o que nega à vida e a existência do eu. Todo esse pensamento lançou as bases para o surgimento da psicanálise, desenvolvida por Freud no início do século XX. Por psicanálise entende-se tanto a descrição da mente, da psique humana em geral, quanto um método de tratamento para distúrbios nervosos e psíquicos.
Freud concordava com Nietzsche em relação a uma desconstrução do sujeito racional. O homem não é apenas um ser racional como defendiam os filósofos iluministas do Séc. XVIII, o homem também é pulsão, impulso. Com frequência, impulsos irracionais determinam nossos pensamentos, nossos sonhos e nossas ações. Tais impulsos irracionais são capazes de trazer à luz instintos e necessidades que estão profundamente enraizados dentro de nós. Foi desenvolvendo isso que Freud elabora a teoria do Inconsciente.
Assim, a vida psíquica é constituída por três instâncias, sendo que duas delas sendo inconsciente e uma apenas consciente. Essas instâncias são: O Id (isso), Ego (eu) e Superego (Super eu). O Id é a instância inteiramente inconsciente, o Ego a instância consciente, o Superego, por sua vez, possui aspectos conscientes e inconscientes.
O Id é formado por instintos,impulsos orgânicos e desejos inconscientes. Esses desejos Freud chama de pulsões. Estas são regidas pelo princípio do prazer, que exige satisfação imediata. O Id é a energia dos instintos e dos desejos em busca de realização desse princípio de prazer. Freud descobriu que esses instintos são de natureza sexual e por isso empregou um termo para se referir a eles: Libido (que em latim significa lascívia, luxúria, desejo sexual). Dessa forma, o Id é o reservatório da energia psíquica ou o reservatório da libido.
Freud descobriu também que a sexualidade não se reduz ao ato sexual genital, mas envolve todos os desejos que pedem satisfação e que podem ser satisfeitos em qualquer parte de nosso corpo ou na totalidade dele.
A fundamental existência do Ego é a Angústia. O Ego é a consciência, pequena parte da vida psíquica, submetida aos desejos do Id e à observação, censura e repressão do Superego. Obedece, portanto, o Princípio da Realidade, ou seja, à necessidade de encontrar objetos que possam satisfazer o Id sem transgredir as exigências do Superego.
Assim o Ego fica “espremido” entre três escravidões: Os desejos insaciáveis do Id, a severidade repressiva do Superego e os perigos do mundo exterior. Por esse motivo, a forma fundamental da existência para o Ego é a angústia. Dessa forma, ao Ego é dada uma função dupla: ao mesmo tempo recalcar o Id, satisfazendo o Superego, e satisfazer o Id, limitando o poderio do Superego.
A Psicanálise freudiana consiste, nesta perspectiva, na busca da fonte dos sintomas perturbadores que causam o desequilíbrio entre a função do ego, o que pode ser identificado como neurose ou psicose. “Segundo Freud, a História da civilização era marcada pelo embate entre as pulsões de vida, designadas como Eros, e as pulsões de morte, designadas como Tânatos. Essa luta interna seria a causa da angústia e mal-estar para o indivíduo, uma vez que a vida em sociedade exigia-lhe uma repressão constante e eficaz de certos impulsos naturais”. (SILVA, Michele Czaikoski. POSITIVO, 2009).  

Bibliografia

CHAUÍ. Marilena de Souza. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2003.
FREUD, Sigmund. Esboço de Psicanálise. São Paulo: Nova Cultural, 2005.
SILVA, Michele Czaikoski. Filosofia, 3ª Série. Curitiba: Positivo, 2009.

Dica de Leitura:

- Aurora - Nietzsche
- Para além do bem e do mal - Nietzsche

quarta-feira, 3 de outubro de 2012


Sociedade e Natureza
Prof. Maicon Martta

A crise ambiental está ligada, principalmente, à forma como a sociedade se relaciona com o meio ambiente. Fato que trás os problemas ambientais a uma esfera interdisciplinar, que diz respeito também à sociologia.
O homem pertence a duas esferas, a dois âmbitos distintos: o âmbito natural e o social. No entanto, é freqüente a negligência em relação a esse aspecto. Por vezes, o homem esquece que pertence a essas duas esferas, e acaba agindo como se estivesse fora do mundo, como se não fizesse parte dele, e insistindo em ser seu Senhor.
Quando analisamos o homem como ser social, pensamos a natureza como fonte de sustento, como recurso para nos servir e não como extensão de nós mesmos. O homem também é natureza, faz parte dela e não é superior ou segregado a ela. O homem tem que ter em mente que nossa espécie não é uma espécie separada e especial, mas apenas mais uma espécie dentre tantas outras existentes.
Uma série de fatores levam o ser humano a pensar que é o senhor da natureza. São elas: a racionalidade ( que apresenta uma contradição em relação à irracionalidade de certos atos); a visão moderna de mundo (em que o ideal está na industrialização e desenvolvimento focados no progresso); Na modificação constante do meio ambiente (antropomorfismo); Nas diferentes culturas e na Religião (que coloca o homem como um ser especial, senhor da natureza).
A racionalidade da a falsa impressão de que o homem, por ser dotado dessa dádiva, pode qualquer coisa, ou seja, pode agir sem limites. Mas essa mesma racionalidade, que é capaz de realizar tantas maravilhas é incapaz de levar em consideração que não se pode mais pensar a realidade sem se levar em conta um sistema, em que tudo está relacionado num processo de mútua dependência.
A visão moderna do mundo justifica seus atos nocivos ao meio ambiente em pró de um progresso, seja eles, econômicos, científicos ou de infraestrutura. Essa visão é a responsável, por exemplo, da recusa de certos países a assinar o protocolo de Kyoto, no Japão. 
A ação humana, a mudança do espaço geográfico é algo que acontece desde tempo imemoriais. O homem sempre se adaptou ao meio, mas também sempre adaptou o meio à suas necessidades. O alastramento das cidades, as mudanças na zona rural, o desvio de rios para o armazenamento de água e a construção de hidrelétricas. Tudo isso afeta o meio em que vivemos e por melhores que sejam as intenções, são nocivos ao meio ambiente.
As diferentes culturas e religiões também contribuem para esse quadro. Algumas culturas, protegidas por lei, têm permissão para caçar animais em risco de extinção. Compreende-se, no entanto, que essas culturas também estão ameaças e por isso essa determinação legal. Mas a cultura envolve mais do que hábitos, valores e costumes de um povo. Vivenciamos uma forte influência da cultura de mercado. De expansão econômica e tecnológica que vem ocorrendo desde o fim da Segunda grande Guerra. Dentro dessa cultura, o avanço tecnológico e industrial pesa muito mais do que a conscientização ambiental. De fato, as grandes discussões relacionadas a esse problema giram em torno dessa questão. A tentativa de descobertas de novas fontes de energias, limpa, esbarram em burocracias que envolvem a economia e o capital.
Já na questão religiosa, as principais religiões do mundo, a saber: o judaísmo, o cristianismo e o Islamismo, que têm sua raiz no profeta Abraão, e nos primeiros livros conhecidos como Pentateuco. Lembramos que o primeiro livro da bíblia que narra a criação do mundo e de tudo que existe coloca o homem numa posição privilegiada em comparação aos demais seres criados. Lê-se no capítulo 1, verso 26: “também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rasteja na Terra”, mais adiante no mesmo capítulo lê-se: “[...] e a todos os animais da terra, e a todas as aves dos céus, e a todos os répteis da terra, em que há fôlego de vida, toda erva verde lhes será para mantimento”.
Percebe-se que uma cultura fortemente religiosa acaba enraizando seus preceitos de maneira direta, mantendo hábitos que consideram naturais, afinal sempre estiveram ali escritos, o que faz com que não se contrarie o que vem sendo tido como tradição.
Não obstante, a relação entre Sociedade e Natureza varia de acordo com a cultura e também a religião. Os budistas respeitam todas as formas de vida, assim como outras religiões orientais e indígenas. Cultura diferente, diferente relações, mas é inegável que o homem transforma a natureza e que isso, acarrete conseqüências desastrosas para as gerações futuras.
Consciência ambiental é a palavra de ordem nos dias que seguem, é o imperativo do novo século, basta sabermos se seremos racionais e agir como tais, ou continuar agindo como se fossemos senhores do universo, sem levar em consideração o Todo que depende de nós como parte. 

quarta-feira, 1 de agosto de 2012


Sujeito e Realidade
Prof. Maicon Martta


“Uma vida não examinada não vale a pena ser vivida”
Sócrates
“Nosce te ipsom”[1]
(Inscrição do Templo de Apolo em Delfos)

Deleuze, filósofo francês contemporâneo, diz em algures, que a filosofia surge em momentos de crise, não para solucionar os problemas suscitados pela mesma, mas para mostrar a direção a se seguir para a obtenção de tal fim. A filosofia por si só não resolve nada e isso faz com que às vezes ela seja mal interpretada pelo seu aspecto especulativo e não pragmático. No entanto, é através da filosofia que podemos percorrer os grandes problemas da humanidade e apontar o caminho para possíveis soluções que caberá à outras disciplinas originadas da filosofia e que tenham caráter mais prático solucionar.
A filosofia nasceu no séc. VII a.C. para confrontar o pensamento mítico que não oferecia uma explicação satisfatória acerca do mundo e da realidade. Por esse motivo, os primeiros filósofos se interessavam pelas questões como: a origem do cosmos e do mundo, assim como de toda a realidade existente. Esses primeiros filósofos, por pensarem a natureza da realidade eram chamados de filósofos da Physis, ou da natureza. Através de seus pensamentos muitos caminhos foram apontados para que se respondesse a pergunta “Como se constitui a realidade?”.
A partir dessas vias, o pensamento foi se modificando, novas luzes a esses problemas eram trazidos, sendo aperfeiçoados por uns e contestados por outros. O questionamento sobre a origem do universo e da realidade perdurou até o desenvolvimento do pensamento de Sócrates.
Sócrates inova o pensamento filosófico em dois aspectos fundamentais:
·                           Primeiramente, Sócrates foi responsável pela mudança temática da filosofia. Os primeiros filósofos pensavam o mundo e a realidade, a partir de Sócrates a filosofia começa a pensar o homem, o sujeito e sua conduta perante a sociedade. Por introduzir esse pensamento, Sócrates é considerado um divisor de águas, e a filosofia do período anterior ao filósofo de Atenas passou a ser conhecido como Pré-socrático.
·                           O segundo ponto fundamental trazido por Sócrates e inovando a filosofia foi o método utilizado por ele.  O método socrático se apresenta em dois passos distintos: O elenkhos (refutação) e a maiêutica (desenvolvida através da Ironia Socrática).

Com Sócrates, a reflexão sobre o homem e sua conduta aponta para a filosofia uma nova problemática que se estenderá até a contemporaneidade. A partir dele, não só a realidade passou a ser pensada, mas também o desenvolvimento e comprometimento do homem com essa realidade. Nessa perspectiva, novos questionamentos sobre a constituição da realidade tomaram foco no pensamento filosófico, perguntas como: O que origina a realidade? O sujeito é elemento condicionante na constituição da realidade ou apenas mais um elemento? Quem é que caracteriza o que é real?
Questionamentos como estes serão o fio condutor da reflexão filosófica até a atualidade, ora explorando de forma mais minuciosa o sujeito ora a realidade, mas sempre num eterno e profundo questionar, efetivando a proposta filosófica de apontar caminhos para a pretensa solução de problemas.


[1] Conhece-te a ti mesmo.

quinta-feira, 14 de junho de 2012


Teodicéia



Teodicéia é um conceito filosófico-teológico que parte do pressuposto da existência de Deus e tem como objetivo o entendimento desse Deus. Sendo assim, Teodicéia, grosso modo, significa a justificação de Deus por intermédio da razão, em outras palavras é a explicação teológica sob à luz da razão, o que para muitos pesquisadores é uma incoerência, uma vez que para esses as questões teológicas envolvem unicamente a fé.

O texto que se segue busca esclarecer um pouco esse conceito e auxiliar os leitores a compreendê-lo e a se posicionarem em relação a ele. Para tal, utilizarei, na íntegra, um texto bastante esclarecedor utilizado pelo professor Theobaldo Miranda Santos, em seu curso de filosofia e ciências e que foi publicado pela Companhia editorial Nacional, no ano de 1961, com o título de Manual de Filosofia. 

Prof. Maicon Martta
 



I.                   Noção de Teodicéia


   Definição: Segundo sua etimologia, teodicéia significa justificação de Deus. Esta denominação foi, a princípio, reservada às obras destinadas a defender a Providencia contra as dificuldades suscitadas pelo problema do mal. Mais tarde, teodicéia tornou-se sinônimo de teologia natural, aplicando-se ao estude de Deus pela razão.

A teodicéia representa, portanto, uma ciência racional por que se baseia nos recursos naturais na inteligência humana. Distingue-se da teologia que estuda Deus à luz dos dados da Revelação.

Método: Devido ao caráter transcendente do seu objetivo, a teodicéia não é uma ciência experimental, como a física ou a química. Não representa também uma ciência abstrata e a priori, como a geometria, pois o seu objeto não é uma simples abstração e sim a mais real e concreta das realidades.

Sendo Deus absoluto e real, infinito e concreto, e só podendo ser apreendido pelos seus efeitos, a melhor maneira de estudá-lo é partir da observação dos fatos para daí subir, por meio da razão, até o infinito e absoluto.

Divisão: A ideia de Deus compreende três noções: essência absoluta: Deus existe por si, independente de toda plenitude do ser e da perfeição; existência perfeita: Deus abrange em sua natureza a plenitude do ser e da perfeição; causalidade universal: Deus é a razão de ser e a causa primeira de tudo o que existe.


II.                Existência de Deus


Demonstração da existência de Deus: Antes de abordar o estudo das provas da existência de Deus, convém verificar se essas provas são necessárias e possíveis. Os ontologistas, por exemplo, afirmam que é uma tarefa inútil demonstrar a existência de Deus, enquanto que os fideístas e agnósticos negam a possibilidade dessa demonstração. Comecemos por examinar esses dois pontos de vista.

Argumento Ontológico: Os ontologistas proclamam que não é necessário demonstrar a existência de Deus, pois, na sua opinião, a existência de Deus é evidente por si mesma e que não se demonstra a evidência.

Centros ontologistas (Malebranche, Gioberti) admitem que temos a intuição de Deus na intuição do ser universal, donde o nome de ontologismo conferido a essa doutrina. Outros (Sto. Anselmo, Descartes) se limitam a afirmar que a existência de Deus é evidente a priori, bastando para isso compreender o que significa a palavra Deus. Com efeito, dizem eles, a palavra Deus que dizer “o Ser que tem todas as perfeições”. Ora, a existência é uma perfeição, logo Deus existe. Não se pode, portanto, conceber Deus, sem apreender, ao mesmo tempo, sua existência.

O argumento ontológico é falso. A intuição do ser universal ou inteligível não representa a intuição de Deus ou do Ser infinitamente perfeito, mas apenas a intuição do ser indeterminado. Por outro lado, não é evidente para todos, mesmo entre os deístas, que Deus seja um ser absolutamente perfeito. Muitos filósofos têm confundido Deus com o mundo e certos povos tem emprestado uma natureza divina aos astros, aos animais, etc.

Além disso, o argumento ontológico constitui um verdadeiro sofisma, pois passa, indevidamente, da ordem lógica para a ordem real. É claro que não posso conceber um ser perfeito, sem o conceber como existente (ordem lógica), mas isto não prova que esse ser perfeito exista realmente (ordem real). Sendo assim, torna-se a necessária a demonstração da existência de Deus.

Argumento fideístas e agnóstico: Os fideístas admitem que a existência de Deus é um problema que ultrapassa os recursos da razão humana, só podendo, por isso, ser resolvido pela fé. Os agnósticos negam à razão e à fé o poder de provar a existência de Deus. Na sua opinião, nosso conhecimento não vai além da experiência sensível. Logo, tudo que transcende o plano dos sentidos é inacessível ao conhecimento humano e, portanto, indemonstrável. É o caso da existência de Deus.

Ora, como mostra Sto. Tomás, nosso conhecimento de Deus tem, realmente, uma origem sensível, pois parte dos efeitos sensíveis do poder divino. Sob esse aspecto, não podemos ter um conhecimento perfeito de Deus, pois não existe nenhuma proporção entre a natureza divina e suas obras sensíveis. Mas a demonstração fornecida por essas obras nos permite conhecer Deus como causa das mesmas. Por conseguinte, ao contrário do que supõem os fideístas e agnósticos, a inteligência humana, partindo dos efeitos sensíveis, pode elevar-se, por meio do raciocínio, até à natureza e atributos da Causa Primeira da realidade universal.

Provas da existência de Deus: Dividem-se as provas da existência de Deus em provas metafísicas e provas morais, conforme parte da realidade objetiva do universo ou da realidade moral. Na verdade, porém, toda prova de Deus é metafísica, uma vez que a existência de Deus não é objeto de apreensão intuitiva e só pode ser demonstrada à luz de princípios metafísicos.

1)      Provas Metafísicas:

A existência do mundo: O mundo existe. Ora, o mundo, - que é contingente, que não existe por si mesmo, que não tem em si próprio a razão suficiente de sua existência, que não poderia ter-se originado do nada ou do acaso -, só pode existir pela ação de um Criador incriado, eterno e necessário que é Deus.

A existência do movimento: O movimento existe no mundo. Ora, o movimento não é essencial, mas acidental à matéria. A existência do movimento precisa, para sua explicação, de um primeiro motor imóvel, princípio necessário e imutável de todo movimento. O dinamismo incessante do universo supõe um impulso inicial que só poderia ter sido dado por Deus.

A existência da vida: A vida existe sobre a terra. Ora, a terra não tendo possuído sempre seres vivos, como provam as observações geológicas; a vida só podendo originar-se da vida, como atestam as experiências biológicas; os seres vivos só podendo gerar seres semelhantes a si mesmos, - como explicar a existência da vida em todos os seus graus, sem a intervenção de um poder superior às forças da matéria, de um ser criador transcendente, enfim, de Deus?

A existência da ordem do universo: Todo efeito em que se verifica a escolha de meios adequados para atingir um fim, supõe uma causa inteligente. Toda ordem implica uma razão ordenadora. Ora, no universo, quer no seu conjunto ou na suas partes, quer na sua natureza física, orgânica ou psíquica, vamos encontrar uma coordenação harmoniosa e perfeita de meios e de fins. Logo, a existência da ordem do universo prova a existência de um ordenador perfeito, de uma causa infinitamente sábia que é Deus.

2) Provas Morais:

A existência da lei moral: Todo ser livre tende a realizar, na medida do possível, seu fim particular que é o bem moral, e seu fim universal que é o bem supremo. A lei moral ou princípio do dever existe e se impõe à nossa razão e à nossa vontade: o homem tem a noção do dever, que o impele a fazer o que é bom e evitar o que é mau. Ora, essa lei – que não poderia provir do mundo físico, nem da natureza humana, masque existe formada em nossa consciência –, supõe uma causa e uma autoridade, que tenham os mesmos caracteres que ela, isto é, que sejam universais, imutáveis e eternas.

Logo, como não há lei sem legislador, obrigação sem autoridade, e autoridade sem um ser real que a exerça, Deus existe como causa suprema da noção do dever, e como autoridade que confere ao principio do dever o seu caráter imperativo absoluto.

O mérito e o demérito: Todo ato conforme ou contrário à lei moral merece uma recompensa ou penalidade proporcional ao seu grau de bondade ou maldade. Por conseguinte, o principio do mérito e do demérito existe e nosso espírito o concebe como complemento necessário do principio do dever.

Ora, esse princípio que não deriva do mundo físico ou da natureza humana; que é universal, imutável e eterno como o princípio do dever; que não constitui apenas um fato intelectual, mas a garantia absoluta duma sanção perfeita, adequada à lei moral, implica a existência de uma causa real e absoluta, isto é, Deus.

O consentimento universal: A ideia de Deus não é apanágio dos filósofos e dos cientistas, nem uma noção moderna ou um conceito da civilização ocidental. “É uma ideia universal no tempo e no espaço”. Em todos os quadrantes da terra, em todas as formas de cultura, em todos os povos, ao longo de toda a história, sábios ou ignorantes tem proclamado sua crença num Senhor soberano do universo. “Nem as mitologias, observa Jolivet, por vezes tão estranhas, onde se manifesta a crença em Deus, nem o ateísmo que se encontra na história, sobretudo contemporânea, podem dissimular o fato indiscutível do consentimento unânime do gênero humano em torno da existência de Deus”.

Esta universalidade de opinião demonstra que a crença em Deus se apóia sobre razões poderosas e acessíveis a todas as inteligências, e que resulta do exercício normal do pensamento humano quando obedece às suas exigências racionais.

As aspirações da alma humana: O sentimento religioso, isto é, o conjunto das aspirações que levam o homem a procurar, além dos seres finitos, um ser infinito, perfeito e absoluto, onde possa realizar a satisfação plena e integral das suas tendências para a verdade, para a beleza e para a bondade, existe em todas as criaturas humanas e aparece com um relevo mais acentuado nas almas mais puras, inteligentes e livres.

Ora, esse sentimento que representa um dos elementos constitutivos da natureza do homem é uma tendência tão real e viva como qualquer outra inclinação física, intelectual ou social. Deve, portanto, possuir uma causa e um objeto reais: uma causa soberanamente boa, inteligente e perfeita e um objeto com idênticos caracteres. É para essa causa e para esse objeto, aureolado por tais caracteres, que o sentimento religioso impele, irresistivelmente, a nossa alma. Por conseguinte, Deus existe como causa e objeto do sentimento religioso e das aspirações superiores da alma humana.

A experiência mística: Certas almas privilegiadas, profundamente religiosas, como São Paulo, São Francisco de Assis, Santa Teresa São João da Cruz, etc., tem afirmado ter estado em contato direto e vivo com Deus, de uma maneira que ultrapassam todos os meios de expressão humana. Nesse “contato experimental” tiveram o ensejo de desfrutar, com irresistível evidencia, a presença soberana de Deus.

Poderíamos admitir, sem dúvida, como observa Jolivet, que essa “experiência mística” constitui simples ilusão. Mas essa interpretação se apresenta cheia de dificuldades insuperáveis quando atentarmos para o fato de a referida experiência se ter realizado com espíritos lúcidos e sadios, com caracteres retos, puros e leais, com pessoas cuja vida foi sempre um modelo de equilíbrio, de elevação e de bondade.

O argumento baseado no fato místico consistirá, portanto, em dizer que essa experiência mística das grandes almas cristãs é absolutamente inexplicável se a intervenção de Deus. Não é possível acreditar que todos esses espíritos religiosos se tenham enganado ao afirmarem, com convicção serena e inabalável, a existência das mesmas realidades sobrenaturais que conheceram por experiência pessoal. Resta apenas concluir, com Bérgson, que há, na unanimidade dos grandes místicos cristãos, ao descreverem suas experiências, “o sinal de uma identidade de intuição” que só se explica “pela existência real do Ser e com o qual (os místicos) se crêem em comunicação (R. Jolivet, Cours de philosophie, 1938, p.268.)


III.             Natureza e atributos de Deus


Natureza de Deus: O homem pode elevar-se, por meio de sua inteligência, até o conhecimento da natureza divina. Para isso, utiliza-se dos efeitos dessa natureza na realidade universal. Como os efeitos apresentam sempre alguma semelhança com a causa que os produziu, nosso conhecimento da natureza divina, é, sem dúvida, real. Mas permanece incompleto e imperfeito, uma vez que uma coisa só pode ser conhecida perfeitamente quando considerada em si mesma. Como Deus é perfeição absoluta e infinita e nossa inteligência relativa e limitada, jamais poderemos aprender a natureza divina na plenitude dos seus atributos.

Atributos de Deus: Podemos distinguir em Deus três espécies de atributos: atributos entitativos ou metafísicos, que nos mostram Deus como ser e substancia absolutos; atributos operativos, que no-lo revelam como ser espiritual em suas operações ou atos; atributos morais, que no-lo manifestam como pessoa moral.

1)      Atributos Entitativos:

Simplicidade: Deus não é composto de partes, pois toda composição implica imperfeição. O composto depende, necessariamente, dos elementos que o constituem. Deus é, portanto, perfeitamente simples.

Infinidade: Deus é infinito, isto é, sem limite em seu ser, pois é o ser por si, o ser que existe por sua própria essência. Nada existe além e acima de Deus, que de nada depende e ao qual tudo está subordinado.

Unicidade: Sendo infinitamente simples, Deus é infinitamente uno e indivisível. Mas é também absolutamente único. Supor dois ou mais Deuses igualmente perfeitos, seria absurdo. Dois Deuses seriam idênticos e então se confundiriam, ou seriam diferentes e então não poderiam ser ambos infinitamente perfeitos.

Imensidade: Sendo infinito, Deus não pode ser circunscrito ou limitado por qualquer coisa. A imensidade é a perfeição infinita pela qual Deus, sem ser extenso, ou ocupar algum espaço, porque é absolutamente simples, o enche integralmente com a sua presença e onipotência.

 Imutabilidade: Toda mudança constitui um progresso ou uma decadência. Só mudam e se transformam os seres imperfeitos. Sendo necessariamente perfeito, Deus é imutável, isto é, permanece necessariamente idêntico a si mesmo, sem nenhuma mudança ou variação.

Eternidade: Sendo necessário e infinito, Deus não tem começo nem fim. Só possuem duração limitada os seres imperfeitos. Deus, sendo infinitamente perfeito, é eterno. Não tem passado, futuro, nem presente.

2)      Atributos Operativos:

Inteligência: Sendo tudo, em Deus, infinito, sua inteligência e sua ciência são também infinitas. Para saber, ele não precisa raciocinar. Tudo vê e conhece por intuição direta e imediata.

Vontade: A vontade divina não possui limite e é livre de todo obstáculo. A Deus basta querer para fazer. Age com absoluta independência e sem contradição. Deus é onipotente.

3)      Atributos Morais:

Sabedoria: A inteligência infinitamente perfeita de Deus gera a sabedoria absoluta que o faz empregar os meios mais eficazes para os fins mais dignos. Deus tudo governa com inteligência, segurança e ordem.

Bondade: Deus é amor infinito e perfeito. Ama as coisas segundo seu valor e na proporção do seu mérito. Sendo o Bem supremo, ama a si mesmo e a todos os seres criados, na medida em que participam da sua infinita perfeição, isto é, que imitam sua essência divina. 

Justiça: Sendo em grau infinito, inteligente, sábio e bom, Deus é justo. Possuindo santidade absoluta que é ordem do amor, Ele age com justiça infinitamente perfeita. Por isso, pune o mal e recompensa o bem.


IV.              Relações de Deus com o mundo:


Deus e o Mundo: Na explicação das relações de Deus com o mundo, cumpre-nos evitar os seguintes erros:

a) o dualismo, que admite a coexistência de dois princípios, um de perfeição e outro de imperfeição, ambos eternos e necessários, concorrendo ambos para a formação do mundo; b)o panteísmo, que afirma a identidade substancial de Deus e do mundo; c) o antropomorfismo, que humaniza Deus ou diviniza o homem.

O dualismo é a negação da natureza divina; o panteísmo é contrário à experiência e à realidade moral; o antropomorfismo é absurdo dada a contingência e imperfeição do homem.

Criação e providência: As relações entre Deus e o mundo são explicadas de maneira racional pela doutrina da criação e da providência. Segundo a concepção criacionista, Deus, pelo seu poder e bondade infinitos, tirou o mundo do nada, isto é, sem perda da sua substância, deu existência ao mundo. Segundo a concepção providencialista, Deus não abandonou o mundo depois de criá-lo. Continua, ao contrário, influir, a todo momento, sobre o mundo, com sabedoria e amor, para conservar e dirigir no sentido dos fins estabelecidos pela ordem da criação.

Imanência e Transcendência: O estudo da natureza de Deus e das suas relações com o universo nos mostra que Ele é imanente e transcendente ao mundo. Isto significa que Deus está unido ao mundo que criou, mas dele se distingue como realidade independente. Sendo a causa Primeira de tudo o que existe, Deus é imanente pela sua presença continua e atuante, pos os seres existem e subsistem pela influencia constante do seu poder criador e providencial. Essa imanência não deve ser entendida como identificação com o mundo, o que seria incidir no erro panteísta.

A imanência ou presença divina não exclui a transcendência, isto é, a absoluta independência de Deus do universo e o seu absoluto domínio sobre todas as coisas. O exame da natureza e atributos divinos que acabamos de realizar nos leva à conclusão de que Deus, sendo um Ser infinito, substancialmente distinto do universo que criou, conserva e dirige, é um Ser pessoal, isto é, dotado de uma personalidade autônoma, inteligente e livre.



(Theobaldo Miranda Santos – Manual de Filosofia) 



Levando em consideração à contribuição do professor Theobaldo Miranda Santos, percebe-se que Teodicéia é uma forma de explicação racional de Deus, justificando-o não pela Revelação (os livros sagrados religiosos, como a Bíblia, o Tora, o Alcorão etc.), mas pela razão, tendência que ficou conhecida posteriormente de Teologia Natural. Sendo assim, a teodicéia não é uma ciência experimental e nem empírica, mas parte dos efeitos e da observação dos fatos, num esforço racional de entendimento.

A crença em Deus e a relação com o que se considera Sagrado ou Divino, é um traço cultural humano e inerente a ele. Essa crença é uma etapa clara do desenvolvimento intelectual do homem. O ser humano só pôde desenvolver um sistema de crença depois de compreender a sua limitação perante o deslumbre da natureza. Na tentativa de compreensão daquilo que se considerava infinito, eterno e inabalável, o homem percebeu sua finitude, sua dependência e sua necessidade de projetar suas esperanças em algo que o ligasse àquilo que tinha como sagrado, condição que levou à origem daquilo que chamamos de Religião.

Prof. Maicon Martta





Bibliografia Consultada:


SANTOS, Theobaldo Miranda.  Manual de Filosofia. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1961.



Dica de Leitura:


- As Máscaras de Deus – Joseph Campbell

segunda-feira, 11 de junho de 2012


Filosofia Política: Os Contratualistas


Como resultado das grandes navegações européias foram descobertas novas terras, novos mundos, novos povos e conseqüentemente novas concepções de sociedade. E, em contraposição do homem europeu (descobridor) surgiu o nativo selvagem. O nativo selvagem, no entanto, pode ser considerada uma visão etnocêntrica do homem europeu. Essa condição gerou muita discussão acerca da constituição social e política das sociedades ditas humanas, e mesmo no que era necessário para se considerar humano, uma vez que o homem selvagem encontrou resistência de aceitação dessa condição de humanidade.

Depois de muita discussão, considerando os indígenas seres selvagens, os europeus começaram a indagar-se pela condição humana anterior à civilização e à organização social, condição que ficou conhecida como Estado de Natureza. Segundo pensadores dos séculos XVII e XVIII, ela era marcada pelo direito natural (Jus naturale) e pela lei natural (Lex naturalis). Esses conceitos formaram a base do jusnaturalismo, concepção filosófica que entendia o direito natural como sendo a liberdade para preservar a própria vida, e a lei natural como sendo o dever de preservar-se.

A passagem desse estado natural ou de natureza para o Estado civil ou de sociedade se dava por meio de um contrato social, por isso o nome Contratualistas para se referir aos pensadores que se dedicaram a esta questão. Sendo assim, se pensarmos em uma estrada interrompida por um vale, o contrato social seria a ponte que ligaria o Estado de Natureza ao Estado civil.



O Pacto Social segundo Thomas Hobbes (1588 – 1679)


Para o filósofo inglês Thomas Hobbes, o homem, embora vivendo em sociedade, não possui um instinto natural de sociabilidade. Cada homem sempre encara seu semelhante como um concorrente que precisa ser dominado.

No estado de natureza o homem estaria numa constante “guerra de todos contra todos”, concepção que levou a usar o termo homo homini lupus – o homem é o lobo do homem. Nesse sentido, no estado de natureza prevaleceria a barbárie, a luta e a disputa de todos contra todos, onde os homens estariam dispersos devido aos seus interesses particulares que não poderiam ser resolvidos se não por disputa.

Para que houvesse a união dos homens e o fim da barbárie era necessária a criação de um Pacto social, que garantiria aos homens segurança.  Por meio desse pacto (ou contrato) os indivíduos renunciariam à sua liberdade em favor de um soberano, transferindo os seus poderes a ele. Este Soberano, segundo Hobbes, seria o ESTADO e os poderes atribuídos a ele seria a criação e a aplicação das Leis Civis e de coerção. Segundo este filósofo, o pacto, caracterizado pela renuncia dos poderes e liberdades individuais de todos em favor de um soberano, resultaria na instituição da soberania e do Estado Civil. Desse modo, o poder soberano, representado pelo governante, defenderia todos os direitos dos cidadãos e o cumprimento do pacto, ainda que à força, mas respeitando o direito natural. Somente ele garantiria aos membros da sociedade a preservação da vida e da liberdade.

Hobbes costumava comparar as atribuições do estado a um monstro bíblico chamado de Leviatã, nome que deu a sua obra política mais celebre.



O Pacto Social segundo John Locke


Assim como Hobbes, o filósofo inglês Locke também refletiu sobra a origem do poder político e sobre sua necessidade para congregar os homens, que, em seu estado de natureza viviam isolados.

No entanto, enquanto Hobbes imagina um estado de natureza marcado pela guerra e pela violência, Locke faz uma reflexão mais moderada e se refere ao estado de natureza como uma condição na qual, pela falta de uma normatização geral, cada qual seria juiz de sua própria causa, o que levaria ao surgimento de problemas nas relações entre os homens. Para evitar esses problemas que o Estado e o pacto social deveriam ser criados. O Estado teria a função de garantir a segurança dos indivíduos e seus direitos naturais, como a liberdade e a propriedade.



O Pacto segundo Montesquieu


Como representante francês à filosofia política e à sociologia surge o Barão de Montesquieu, no século XVIII.

Montesquieu era um defensor do pensamento liberal. Em sua obra mais célebre chamada O espírito das leis, ele refletiu sobre a relação entre as leis e as formas de governo, enfatizando a divisão dos poderes do Estado. Dessa forma o Estado se dividiria em três poderes: Executivo, legislativo e judiciário, divisão que já havia sido proposta por Locke.

Em relação ao Estado de natureza, Montesquieu discordava de Thomas Hobbes e Locke. O homem em estado natural não se caracterizava pela guerra, mas pela fraqueza e o medo, situações que o levariam a ser juiz de sua própria causa. O contrato social aproximaria os homens, levando à formação do Estado civil, garantindo dessa forma a segurança e a prosperidade.



O Pacto segundo Jean Jacques Rousseau


J.J. Rousseau, diferente de Hobbes, glorifica os valores da vida natural e ataca a corrupção, a avareza e os vícios da sociedade civilizada. Exalta a liberdade que o homem selvagem teria desfrutado na pureza do seu estado natural, contrapondo-o à falsidade e o artificialismo da vida civilizada.

Assim, para Rousseau, “o homem nasce bom, é a sociedade que o corrompe”. Segundo ele, a condição original de liberdade e inocência desaparecera quando o primeiro homem cercou um terreno e se intitulou proprietário, o que originou as diferenças sociais. Ao mesmo tempo em que se iniciam as diferenças sociais, se iniciam também as disputas pelas riquezas e pelo poder. 

O Estado de sociedade, para Rousseau, seria dessa forma marcado pela insegurança e violência. Portanto, levaria os homens à renúncia do poder pessoal ilimitado e à realização do contrato social.

No entanto, esta renúncia não se daria em favor de um homem soberano como havia proposto Hobbes, mas de uma vontade geral. A elaboração do Estado civil por meio do pacto (contrato) social visava a Soberania do Povo.  

Sintetizando:


Thomas Hobbes: O homem no Estado de Natureza era mau. O pacto social visava a transferência da liberdade e dos poderes individuais para o Estado, ou um soberano. Favorecia o absolutismo.

John Locke: O homem no Estado de natureza era o juiz de sua própria causa. O pacto social garantiria as leis assegurando o direito natural e o direito à propriedade. Favorecia o liberalismo.

Barão de Montesquieu: O homem no Estado de natureza era fraco e vivia com medo. O pacto social aproximava os homens o que levou à criação do Estado Civil e a efetivação da divisão dos três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário). Favorecia o liberalismo e o direito ao voto.

J.J. Rousseau: O homem no Estado de Natureza era bom, a sociedade que o corrompe. O pacto social levaria o homem à renúncia do poder pessoal ilimitado em nome de uma vontade geral. Visava uma democracia, a soberania do povo e a igualdade.  



Dicas de Leitura:



- O Leviatã – Thomas Hobbes

- Do Contrato Social – J. J. Rousseau

- A origem da desigualdade entre os homens – J. J. Rousseau.

segunda-feira, 28 de maio de 2012


Lógica Moderna e Contemporânea.

Prof. Maicon Martta

Introdução a Lógica Simbólica:



Na lógica antiga, os princípios e as leis da lógica correspondiam à estrutura da própria realidade, pois o pensamento exprime o real e dele participa. Para os medievais e para os modernos, ou clássicos (Séc. XVII), a lógica era uma arte de pensar para bem conduzir a razão nas ciências. Como arte de pensar, a lógica oferecia ao conhecimento científico e filosófico as leis do pensamento verdadeiro e os procedimentos para a avaliação dos conhecimentos adquiridos.

A lógica Moderna não era plenamente formal, pois não era indiferente aos conteúdos das proposições nem às operações intelectuais do sujeito ao conhecimento. A forma lógica recebia o valor de verdade ou falsidade com base na verdade ou falsidade dos atos de conhecimento do sujeito e na realidade ou irrealidade dos objetos conhecidos, no entanto, com menos rigor do que na antiguidade.

Já a lógica contemporânea, procura tornar-se puro simbolismo do tipo matemático e um cálculo simbólico, preocupando-se cada vez menos com o conteúdo material das proposições (a realidade dos objetos referidos pela proposição) e com as operações intelectuais do sujeito do conhecimento (a estrutura do pensamento). Em outras palavras, tornou-se plenamente formal.

Assim, como o matemático lida com objetos que foram construídos pelas próprias operações matemáticas, de acordo com princípios e regras prefixados e aceitos por todos, assim também o lógico elabora símbolos e as operações que constituem o objeto lógico por excelência, a proposição. O lógico indaga que forma deve possuir uma proposição para que:

·         Seja-lhe atribuído o valor de verdade ou falsidade;

·         Represente a forma do pensamento; e

·         Represente a relação entre pensamento, linguagem e realidade.

A lógica descreve as formas, as formas, as propriedades e as relações das proposições, graças à construção de um simbolismo regulado e ordenado que permite diferenciar linguagem cotidiana e linguagem lógica formalizada.

Boole definiu a lógica como “o método que repousa sob o emprego de símbolos, dos quais se conhecem as leis gerais de combinação e cujos resultados admitem interpretação coerente”. A lógica tornou-se cada vez mais uma ciência formal da linguagem, uma linguagem inteiramente construída por ela mesma, com base no modelo matemático, inaugurado por Leibniz no século XVII, na filosofia moderna.

A lógica simbólica ou matemática pode ser considerada, em síntese, como ciência do raciocínio e da demonstração. A lógica simbólica trata do estudo das sentenças declarativas também conhecidas como proposições, as quais devem satisfazer aos dois princípios fundamentais do modelo aristotélico seguintes:

1) Princípio da não contradição: Uma proposição não pode ser ao mesmo tempo verdadeira e falsa.

2) Princípio do terceiro excluído: Uma proposição só pode ser verdadeira ou falsa, não existindo uma terceira alternativa.

Diz-se então que uma proposição verdadeira possui valor lógico V (verdade) e uma proposição falsa possui valor lógico F (falso). Os valores lógicos também costumam ser representados por 0 (zero) para proposições falsas ( 0 ou F) e 1 (um) para proposições verdadeiras ( 1 ou V ).  As proposições são representadas pelas letras latinas minúsculas p, q, r, s, t, u.

De acordo com as considerações acima, expressões do tipo, "O dia está bonito", "3 + 5", "x é um número real", "x + 2 = 7", etc., não são proposições lógicas, uma vez que não poderemos associar a ela um valor lógico definido (verdadeiro ou falso).

Exemplificaremos agora algumas proposições com o seu valor lógico especificado ao lado.

p: A soma dos ângulos internos de um triângulo é igual a 180º (V ou 1).

q: 5 + 3 = 2 (F ou 0).

r: O sol é um planeta (F ou 0).

s: 3 + 4 = 7 (V ou 1).

Modificador Negação: dada a proposição p, daremos sua negação por ~p (lê-se não p)

Ex. p: Três pontos determinam um único plano (V).

     ~p: Três pontos não determinam um único plano (F).

Obs. Duas negações equivalem a uma afirmação, ou seja, em termos simbólicos: ~(~p)= p



Operações lógicas: As proposições lógicas podem ser combinadas através dos operadores lógicos Ù , Ú , ® e « , dando origem ao que conhecemos como proposições compostas. Assim, sendo p e q duas proposições simples, poderemos então formar as seguintes proposições compostas: p Ù q, p Ú q, p ® q ou ainda, p « q.

Essas proposições compostas recebem designações particulares, conforme veremos a seguir:

Conjunção: p Ù q  (lê-se p e q).

Disjunção: p Ú q (lê-se p ou q).

Condicional: p ® q (lê-se, se p então q).

Bi-condicional: p « q (lê-se, p se e somente se q).



Tabela de Verdade: Sejam p e q duas proposições simples, cujos valores lógicos representaremos por 0 quando falsa (F) e 1 quando verdadeira (V). Podemos construir a seguinte tabela simplificada:

p
q
p Ù q
p Ú q
p® q
p « q
1
1
1
1
1
1
1
0
0
1
0
0
0
1
0
1
1
0
0
0
0
0
1
1

Da tabela acima, infere-se (deduz-se) que:

·        a conjunção é verdadeira somente quando ambas as proposições são verdadeiras.

·        a disjunção é falsa somente quando ambas as proposições são falsas.

·        a condicional é falsa somente quando a primeira proposição é verdadeira e a segunda falsa.

·        a bi-condicional é verdadeira somente quando as proposições possuem valores lógicos iguais.

Exemplo: Dadas as proposições simples: p: O sol não é um estrela ( F ou 0) e q: 3 + 5 = 8 (V ou 1). Temos:

pÙ q tem valor lógico F (ou 0).
pÚ q tem valor lógico V (ou 1).
p® q tem valor lógico V (ou 1).
p« q tem valor lógico F (ou 0).

Assim a proposição composta “Se o sol não é uma estrela então 3 + 5 é igual a 8”é logicamente verdadeira, não obstante o conceito quase absurdo do contexto da frase.

Dica de Leitura:

- O Tractatus Logico-Philosophicus -   Ludwig Joseph Johann Wittgenstein