terça-feira, 14 de fevereiro de 2012


Filosofia – Texto 5 – Sócrates (479 – 399 a.C.)



Sócrates talvez seja o personagem mais enigmático de toda a história do pensamento ocidental. Ele não escreveu uma linha sequer, e não obstante, está entre os homens que exerceram maiores influências na humanidade.

Sabemos que Sócrates nasceu em Atenas e que ali passou toda a sua vida, sobretudo nas praças do mercado e nas ruas, onde conversava com toda a sorte de pessoas, sem fazer distinção entre elas.

Conhecemos a vida de Sócrates, sobretudo através de seu principal discípulo Platão. Podemos exagerar dizendo que a filosofia de Platão nasce da morte de Sócrates, a qual ele considerava um escândalo. Mas quando Platão dá a palavra a Sócrates não podemos afirmar com toda a certeza que foi Sócrates que realmente disse tais palavras. Por isso não é fácil separar os ensinamentos de Sócrates dos de Platão.

O ponto central de toda a atuação de Sócrates como filósofo estava no fato de que ele não queria propriamente ensinar as pessoas. Para tanto, em suas conversas, Sócrates dava a impressão de ele próprio querer aprender com o seu interlocutor. Ao “ensinar”, ele não assumia a posição de um professor tradicional. Ao contrário da metodologia da sua época, Sócrates dialogava, discutia. Mas Sócrates não teria se tornado tão importante se apenas ouvisse o que os outros diziam e nem seria condenado à morte por isso. Geralmente, o começo de uma conversa, Sócrates só fazia perguntas, como se nada soubesse. Durante a conversa, freqüentemente conseguia levar seu interlocutor a ver os pontos fracos de suas próprias reflexões e argumentações. Uma vez “pressionado contra a parede”, o interlocutor acabava reconhecendo o que estava certo e o que estava errado no seu discurso.

Dizem que a mãe de Sócrates era parteira, e o próprio Sócrates costumava comparar a atividade que exercia com a de uma parteira. Não é a parteira que dá a luz ao bebê, ela só fica por perto para ajudar durante o parto. Sócrates achava, portanto, que sua tarefa era ajudar as pessoas a “parir” uma opinião própria, mais acertada, pois o verdadeiro conhecimento tem de vir de dentro e não pode ser obtido “espremendo-se” os outros. Só o conhecimento que vem de dentro é capaz de revelar o verdadeiro discernimento. A capacidade de dar a luz é uma característica natural. Da mesma forma, todas as pessoas podem entender as verdades filosóficas, bastando para isso usar a sua razão. Quando uma pessoa “toma juízo”, ela simplesmente traz para fora algo que já está dentro de si.

E justamente porque fingia não saber de nada, Sócrates forçava as pessoas usarem a razão. Sócrates era capaz de se fingir ignorante, ou de se mostrar mais tolo do que realmente era. Chamamos isto de Ironia Socrática. Foi dessa maneira que ele conseguiu expor as fraquezas do pensamento dos atenienses. E isso podia acontecer em qualquer lugar, no meio de toda gente. Um encontro com Sócrates podia significar expor-se ao ridículo e ao riso do grande público. Não é de espantar, portanto, que ele incomodasse e irritasse muitas pessoas, sobretudo os que detinham poder e influência na sociedade.

No ano de 399 a.C. Sócrates foi acusado de “corromper a juventude” e de “não reconhecer a existência dos deuses”. Por uma maioria apertada, Sócrates foi condenado à morte, considerado culpado por um júri de cinqüenta pessoas. Ele poderia ter pedido clemência, poderia ter salvado sua vida se concordasse em deixar Atenas. Mas se tivesse feito isso não seria ele mesmo e iria contra tudo o que pregou a sua filosofia. O ponto é que ele considerava sua própria consciência e a verdade mais importante do que sua própria vida. A sentença foi cumprida pouco depois da condenação, na presença dos amigos mais íntimos, Sócrates bebeu um cálice de cicuta.

A Sócrates interessava o homem e suas ações, exatamente aquelas tidas como virtuosas, numa época em que ser virtuoso é quase sinônimo de ser cidadão. Entre seus diálogos questionava o que era a sabedoria, a beleza, a coragem, a justiça, fazia para chegar a questão principal que era o que é a virtude? Conhecer a virtude tornou-se assim, o principal objetivo do verdadeiro conhecimento – só pratica o mal quem ignora o que seja a virtude. E quem tem o verdadeiro conhecimento só pode agir bem. Nesse sentido conhecimento e virtude tornam-se sinônimos.

Com Sócrates, as questões morais deixam de ser tratadas como convenções baseadas nos costumes, as quais se modificam conforme as circunstancias e os interesses, para se tornar problemas que exigem do pensamento uma elucidação racional. Nesse sentido, Sócrates é o fundador da Ética.

Um dos juízes perguntou a Sócrates se ele não se envergonhava de ter se dedicado por uma vida inteira a uma atividade pela qual foi condenado a morte. Ele respondeu:

“Estás enganado, se pensas que um homem de bem deve ficar pensando, ao praticar seus atos, sobre as possibilidades de vida ou morte. O homem de valor moral deve considerar apenas os seus atos, se eles são justos ou injustos, corajosos ou covardes...”


 

Bibliografia Consultada:
 

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2003.
GAARDER, Jostein. O mundo de Sofia. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.



Dicas de Leitura:

- O conceito de Ironia: constantemente referido a Sócrates – S.A Kierkegaard
- Á vida feliz – Sêneca

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