Sociologia – Texto 3 – Segregação
social.
A sociologia é a herança de três eventos importantíssimos da história
mundial. A Revolução científica do Século XVII; a Revolução Francesa e a
Revolução Industrial.
No panorama social após a Revolução Industrial, a configuração da
sociedade sofreu importantes mudanças, entre elas a consolidação do
capitalismo, as grandes reformas urbanas, o aumento populacional e,
conseqüentemente, o aumento da violência e da pobreza.
No Brasil, a adesão ao capitalismo ocorreu tardiamente. O Brasil só se
encaminhou para um processo de modernização, mais especificadamente, após 1850,
com algumas medidas adotadas. Mas somente com a abolição da escravatura o país
pode se engajar de forma efetiva ao sistema capitalista e só depois da
proclamação da Republica que o país alcançou, status de “moderno”.
Não obstante a isso, a configuração urbana do Rio de Janeiro, até
então capital do Brasil, ainda não propiciava um advento do capitalismo a
modelo dos países europeus. Isso se deu pelo fato da falta de subsídios aos
recém libertos escravos, que por falta de empregos e moradia, adotaram cortiços
no centro da cidade, prejudicando dessa forma, o desenvolvimento do comercio
nessa área.
Devemos lembrar que o Rio de Janeiro do século XIX era o cartão de
visitas do Brasil, possuindo um dos maiores portos da América do Sul. Uma boa
impressão era mister para o desenvolvimento da cidade e, conseqüentemente, do
país. Por essa razão, em 1893, o prefeito do Rio de Janeiro Barata Ribeiro
pensou uma reforma urbana que visava não só o ambiente propício para o
desenvolvimento comercial, tão importante e necessário para o crescimento do
capitalismo no Brasil, mas também uma medida de controle e segregação social,
desmanchando os cortiços e afastando seus moradores para outras áreas.
Essa medida fez com que os moradores dos cortiços, mais uma vez
ficassem sem subsídios e muitos passaram a ocupar os morros da região. Para se
ter uma estimativa, ao todo havia 600 cortiços, abrigando aproximadamente 25%
da população. O maior e mais célebre deles era chamado de Cabeça de Porco.
Parte dos moradores desse cortiço ergueram suas casas em uma encosta
que ficava logo atrás do velho local de habitação, o Morro da Providência, que
posteriormente foi considerado a primeira favela do Rio de Janeiro e do Brasil.
De fato, muitos historiadores relacionam as demolições dos cortiços do centro
do Rio de Janeiro com a ocupação ilegal dos morros.
Pouco mais tarde, os soldados que haviam lutado na Guerra dos Canudos,
na Bahia (1896-1897), também se fixaram no Morro da Providência. Eles
aguardavam as casas que o governo lhes havia prometido como soldo de guerra,
mas que nunca receberam. De Morro da Providência o lugar passou a ser conhecido
como Morro da Favella. É que em Monte Santo (BA) havia um morro com o mesmo
nome da vegetação que o cobria, a planta “favella”, e ali ficaram os soldados
que lutaram contra os revoltosos do Arraial de Canudos. Em decorrência disso,
esse nome é utilizado até hoje para denominar áreas degradadas, caracterizadas
por moradias precárias, como falta de infraestrutura urbana e sem regularização
fundiária.
Essa reforma urbana marcou a história da cidade do Rio de Janeiro,
sendo ela profundamente segregacionista. Também se percebe uma primeira
manifestação de estigma na sociedade.
Estigmatização, como
conceito sociológico, é “um atributo que torna (o estranho) diferente dos
demais e o converte em alguém menos apetecível, em casos extremos, em uma
pessoa quase inteiramente malvada, perigosa ou débil. Desse modo, deixamos de
vê-lo como uma pessoa completa para reduzi-lo a um ser inferiorizado e
menosprezado. Um atributo dessa natureza é um estigma especial quando produz
nos demais amplo descrédito” (GOFFMAN. E. Estigma:la
identidad deteriorada. Buenos Aires: Amorrotu Editores, 1970, p.12).
O Estigma é responsável pela criação das chamadas classes perigosas,
em outras palavras, o pobre maltrapilho, produz um efeito no imaginário
sociológico que faz com que classificamos como um possível agressor, violento,
assaltante ou bandido, atribuindo dessa forma, um julgamento precipitado que
nem sempre (ou quase nunca) condiz com a verdade. Essa estigmatização é
responsável pelos diversos atos de violência simbólica existentes hoje em nosso
país. Pode-se dizer que um ato de violência simbólica ocorre quando o Estado
pune “preferencialmente” ações cometidas por determinada categoria social ou
por habitantes de certos espaços sociais e deixa de punir outros. No caso, o
podre, o habitante da favela, é visto desfavoravelmente em relação a outros que
ostentam status social.
Há violência simbólica quando o Estado atribui qualificações mais
negativas que positivas e características depreciativas a determinados locais
ou a certas pessoas. Essa prática, muito comum nas políticas de Estado, além de
não representar qualquer possibilidade de melhoria daqueles que são o seu alvo
preferencial, amplia e reforça preconceitos sociais. Isso ocorre, por exemplo,
quando o Estado define um espaço urbano e seus habitantes como vulnerável ao
crime, apoiando-se inclusive em uma suposta cientificidade. Nesse caso, presta-se
mais um desserviço, porque se promove uma espécie de humilhação pública ou
coloca-se em andamento insultos morais que atingem o seu alvo e ampliam os
conflitos desintegradores.
Uma ação como essa em um espaço social como a Favela, acaba gerando alguns
dogmas. Um dogma é algo apresentado como certo, inquestionável. Os dogmas são
sempre negativos, porque reforçam e ampliam uma visão dualista (e, portanto,
irreal) da cidade.
Muitos preconceitos relacionados a estigmas acabam apontando o pobre,
ou o habitante da favela como “classe perigosa”. Devemos ter em mente que onde
há pauperização, não significa dizer que não há crescimento ou mudança. Ser
pobre, não limita as capacidades e habilidades para se conquistar um espaço
social.
Sites Relacionados.
Dicas de Leitura:
- Os Miseráveis – Victor
Hugo.
- A sociologia e a moderna
teoria dos sistemas – Walter Buckley.
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