terça-feira, 14 de fevereiro de 2012


Sociologia – Texto 3 – Segregação social.



A sociologia é a herança de três eventos importantíssimos da história mundial. A Revolução científica do Século XVII; a Revolução Francesa e a Revolução Industrial.

No panorama social após a Revolução Industrial, a configuração da sociedade sofreu importantes mudanças, entre elas a consolidação do capitalismo, as grandes reformas urbanas, o aumento populacional e, conseqüentemente, o aumento da violência e da pobreza.

No Brasil, a adesão ao capitalismo ocorreu tardiamente. O Brasil só se encaminhou para um processo de modernização, mais especificadamente, após 1850, com algumas medidas adotadas. Mas somente com a abolição da escravatura o país pode se engajar de forma efetiva ao sistema capitalista e só depois da proclamação da Republica que o país alcançou, status de “moderno”.

Não obstante a isso, a configuração urbana do Rio de Janeiro, até então capital do Brasil, ainda não propiciava um advento do capitalismo a modelo dos países europeus. Isso se deu pelo fato da falta de subsídios aos recém libertos escravos, que por falta de empregos e moradia, adotaram cortiços no centro da cidade, prejudicando dessa forma, o desenvolvimento do comercio nessa área.

Devemos lembrar que o Rio de Janeiro do século XIX era o cartão de visitas do Brasil, possuindo um dos maiores portos da América do Sul. Uma boa impressão era mister para o desenvolvimento da cidade e, conseqüentemente, do país. Por essa razão, em 1893, o prefeito do Rio de Janeiro Barata Ribeiro pensou uma reforma urbana que visava não só o ambiente propício para o desenvolvimento comercial, tão importante e necessário para o crescimento do capitalismo no Brasil, mas também uma medida de controle e segregação social, desmanchando os cortiços e afastando seus moradores para outras áreas.

Essa medida fez com que os moradores dos cortiços, mais uma vez ficassem sem subsídios e muitos passaram a ocupar os morros da região. Para se ter uma estimativa, ao todo havia 600 cortiços, abrigando aproximadamente 25% da população. O maior e mais célebre deles era chamado de Cabeça de Porco.

Parte dos moradores desse cortiço ergueram suas casas em uma encosta que ficava logo atrás do velho local de habitação, o Morro da Providência, que posteriormente foi considerado a primeira favela do Rio de Janeiro e do Brasil. De fato, muitos historiadores relacionam as demolições dos cortiços do centro do Rio de Janeiro com a ocupação ilegal dos morros.

Pouco mais tarde, os soldados que haviam lutado na Guerra dos Canudos, na Bahia (1896-1897), também se fixaram no Morro da Providência. Eles aguardavam as casas que o governo lhes havia prometido como soldo de guerra, mas que nunca receberam. De Morro da Providência o lugar passou a ser conhecido como Morro da Favella. É que em Monte Santo (BA) havia um morro com o mesmo nome da vegetação que o cobria, a planta “favella”, e ali ficaram os soldados que lutaram contra os revoltosos do Arraial de Canudos. Em decorrência disso, esse nome é utilizado até hoje para denominar áreas degradadas, caracterizadas por moradias precárias, como falta de infraestrutura urbana e sem regularização fundiária.



Essa reforma urbana marcou a história da cidade do Rio de Janeiro, sendo ela profundamente segregacionista. Também se percebe uma primeira manifestação de estigma na sociedade.

Estigmatização, como conceito sociológico, é “um atributo que torna (o estranho) diferente dos demais e o converte em alguém menos apetecível, em casos extremos, em uma pessoa quase inteiramente malvada, perigosa ou débil. Desse modo, deixamos de vê-lo como uma pessoa completa para reduzi-lo a um ser inferiorizado e menosprezado. Um atributo dessa natureza é um estigma especial quando produz nos demais amplo descrédito” (GOFFMAN. E. Estigma:la identidad deteriorada. Buenos Aires: Amorrotu Editores, 1970, p.12).

O Estigma é responsável pela criação das chamadas classes perigosas, em outras palavras, o pobre maltrapilho, produz um efeito no imaginário sociológico que faz com que classificamos como um possível agressor, violento, assaltante ou bandido, atribuindo dessa forma, um julgamento precipitado que nem sempre (ou quase nunca) condiz com a verdade. Essa estigmatização é responsável pelos diversos atos de violência simbólica existentes hoje em nosso país. Pode-se dizer que um ato de violência simbólica ocorre quando o Estado pune “preferencialmente” ações cometidas por determinada categoria social ou por habitantes de certos espaços sociais e deixa de punir outros. No caso, o podre, o habitante da favela, é visto desfavoravelmente em relação a outros que ostentam status social.

Há violência simbólica quando o Estado atribui qualificações mais negativas que positivas e características depreciativas a determinados locais ou a certas pessoas. Essa prática, muito comum nas políticas de Estado, além de não representar qualquer possibilidade de melhoria daqueles que são o seu alvo preferencial, amplia e reforça preconceitos sociais. Isso ocorre, por exemplo, quando o Estado define um espaço urbano e seus habitantes como vulnerável ao crime, apoiando-se inclusive em uma suposta cientificidade. Nesse caso, presta-se mais um desserviço, porque se promove uma espécie de humilhação pública ou coloca-se em andamento insultos morais que atingem o seu alvo e ampliam os conflitos desintegradores.

Uma ação como essa em um espaço social como a Favela, acaba gerando alguns dogmas. Um dogma é algo apresentado como certo, inquestionável. Os dogmas são sempre negativos, porque reforçam e ampliam uma visão dualista (e, portanto, irreal) da cidade.

Muitos preconceitos relacionados a estigmas acabam apontando o pobre, ou o habitante da favela como “classe perigosa”. Devemos ter em mente que onde há pauperização, não significa dizer que não há crescimento ou mudança. Ser pobre, não limita as capacidades e habilidades para se conquistar um espaço social.



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Dicas de Leitura:


- Os Miseráveis – Victor Hugo.
- A sociologia e a moderna teoria dos sistemas – Walter Buckley.

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