Filosofia
– Texto 6 – A Linguagem
A Linguagem é tão importante para o
homem quanto a sua capacidade de raciocinar. Se o homem é um animal político,
capaz de viver em sociedade, de produzir cultura e adquirir um lugar único no
cosmos, se deve ao fato de se possuir uma linguagem. “Os limites da nossa
linguagem são os limites de nosso mundo” escreve Wittgenstein, afirmando a
importância dessa capacidade tipicamente humana. O mundo é constituído pela
linguagem e por ela podemos exprimir o bom e o mau, o certo e o errado, o justo
e o injusto, expressões que torna possível nossa vida em sociedade.
A linguagem está sempre em nossa volta.
Ao nos depararmos com uma placa de sinalização, ali a encontramos, ao formular
um pensamento, um conceito, ali encontramos a linguagem mais uma vez, nos
fazendo a cada etapa mais humanos, exigindo de nós mais racionalização.
A linguagem, escreve Marilena Chauí
(2003, p. 148), é uma forma tipicamente humana da comunicação, da relação com o
mundo e com os outros, da vida social e política, do pensamento e das artes. Em
suma, se existe uma pensar, existe uma linguagem capaz de transmitir esse
pensamento. O mundo da forma que conhecemos não existiria se não houvesse essa
forma de comunicação.
No diálogo Fedro, Platão dizia que a linguagem é um phármakon (pharmakon). Essa palavra grega (da qual vem nosso vocábulo farmácia), que em português possui três
sentidos principais: remédio, veneno e cosmético. Ou seja, Platão considerava
que a linguagem pode ser um medicamento ou um remédio para o conhecimento, pois
pelo diálogo e pela comunicação, conseguimos descobrir nossa ignorância e
aprender com os outros. Pode, porém, ser um veneno quando, pela sedução das
palavras, nos faz aceitar fascinados com o que vimos ou lemos, sem que
indaguemos se tais palavras são verdadeiras ou falas. Enfim, a linguagem pode
ser cosmético, maquiagem ou máscara para dissimular ou ocultar a verdade sob as
palavras. A linguagem pode ser conhecimento-comunicação, mas também pode ser
encantamento-sedução (Chauí, 2003, p.148).
Essa mesma ideia da linguagem como
possibilidade de comunicação-conhecimento e de dissimulação-desconhecimento
aparece na Bíblia judaico cristã, no mito da torre de Babel, quando Deus lança
a confusão entre os homens, fazendo-os perder a língua comum e passando a falar
línguas diferentes, que impediam a realização de uma obra em comum e abriam as
portas para todos os desentendimentos e guerras. A pluralidade das línguas é
explicada, nas escrituras sagradas, como punição porque os homens ousaram
imaginar que poderiam construir uma torre que alcançasse o céu, isto é, ousaram
imaginar que teriam um poder e um lugar semelhantes ao da divindade. (Ibid).
Destarte, a linguagem como palavra
também pode ser uma arma. Quem nunca se ofendeu com as palavras de um amigo ou
parente, talvez mal pensadas, mas ditas diretamente do coração? A linguagem,
nesse sentido, ganha outra propriedade, uma que é destrutiva. O mesmo caráter,
ela adquire num discurso de um ditador. A palavra pode despertar paixões
naqueles quem as escutam, podendo, dessa maneira, gerar ações impensadas e
perigosas, sendo veneno, como assevera Platão.
Levando isso em consideração, a
linguagem tem poder, exibe força, uma vez que o discurso, conforme for
dirigido, pode gerar um poder encantatório, capaz de seduzir.
Já comprovamos a força do verbo no
gênesis bíblico. Mas podemos comprovar essa força também nos discursos
políticos.
A linguagem ocupa um campo específico
da filosofia denominado Filosofia da Linguagem. Nesse ramo da filosofia
estuda-se a essência e a natureza dos fenômenos lingüísticos. Sendo assim, ela
trata, de um ponto de vista filosófico, da natureza do significado lingüístico,
da referencia, do uso da linguagem, do aprendizado e da criatividade dos que a
utilizam, também trabalha a questão da compreensão, interpretação e uso lógico
de suas propriedades. Dessa forma a filosofia trabalha o que é a linguagem e
seus diferentes significados procurando relacionar de forma objetiva a
realidade, a interpretação e compreensão dessa realidade e a transmissão dos
conceitos formados sobre ela.
Bibliografia
Consultada
CHAUÍ, Marilena de Souza. Convite à Filosofia. São Paulo: Editora
Ática, 2003.
Dicas
de Leitura:
-
O conhecimento sagrado de todas as eras –
Mircea Eliade.
-
Fedro, O Banquete, Górgias – Platão.
-
Gênese – Bíblia Sagrada – RA –
Tradução: João Ferreira de Almeida.
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