quarta-feira, 28 de março de 2012


Filosofia – Texto 14 – Kant e o processo do conhecimento (síntese I)



Immanuel Kant (1724-1804) – A capacidade de conhecer

Prof. Maicon Martta



Kant é considerado o maior filósofo do iluminismo alemão e um dos mais importantes dentro da história do pensamento ocidental. Nascido em Königsberg, e sem nunca ter saído de sua cidade, Kant sintetiza em suas obras o otimismo iluminista em relação à possibilidade de o homem se guiar por sua própria razão, sem deixar enganar pelas crenças, tradições e opiniões alheias.

Ele apresenta o processo de Iluminação ou Esclarecimento (Aufklärung) como sendo a “saída do homem de sua menoridade” e a tomada de consciência por ele da autonomia da razão na fundamentação do agir humano.

O ser humano, como ser dotado de razão e liberdade, é o centro da filosofia kantiana. Kant afirma que a filosofia deve responder a quatro questões fundamentais: O que posso saber? Como devo agir? O que posso esperar? E o que é o homem?

Tentando responder essas questões, ele desenvolveu um exame crítico da razão, a fim de investigar as condições nas quais se dá o conhecimento humano.

Esse exame está contido em sua obra mais célebre, Critica da Razão Pura. Nesta obra ele distingue duas formas básicas para o ato de conhecer.

O Conhecimento empírico (a posteriori): Aquele que se refere aos dados fornecidos pelos sentidos, isto é, que é posterior à experiência. Exemplo: Este livro tem capa verde.

O Conhecimento puro (a priori): Aquele que não depende de quaisquer dados dos sentidos, ou seja, que é anterior a experiência. Nasce puramente de uma operação racional. Exemplo: duas linhas paralelas jamais se encontrarão no espaço. Essa afirmação (juízo) não se refere a esta ou àquela linha paralela, mas a todas. É uma afirmação universal. Além disso, é uma afirmação que, para ser válida, não depende de nenhuma condição específica. Trata-se de uma afirmação necessária.

O conhecimento puro, portanto conduz a juízos universais e necessários, enquanto o conhecimento empírico não possui essas características. Os juízos, por sua vez, são classificados por Kant em dois tipos: os analíticos e os sintéticos.

O juízo analítico é aquele que o predicado já está contido no sujeito. Ou seja, basta analisarmos o sujeito para deduzirmos o predicado. Exemplo: O quadrado tem quatro lados. Analisando o sujeito quadrado, concluímos, necessariamente o predicado: tem quatro lados.

O juízo sintético é aquele em que o predicado não está contido no sujeito. Nesses juízos, acrescenta-se ao sujeito algo novo, que é o predicado. Assim, os juízos sintéticos enriquecem nossas afirmações e ampliam o conhecimento. Exemplo: Os corpos se movimentam. Por mais que analisemos o conceito corpo (sujeito) não extrairemos a informação representada pelo predicado se movimentam.

Por fim, analisando o valor de cada juízo, Kant chega à seguinte classificação:

Juízo analítico: Serve apenas para tornar mais claro, para explicitar aquilo que já se conhece do sujeito. Não dependendo da experiência sensorial, o juízo analítico é universal e necessário. Mas, a rigor, é pouco útil, no sentido de que não conduz a conhecimentos novos.

Juízo sintético a posteriori: Está diretamente ligado a nossa experiência sensorial. Tem uma validade sempre condicionada ao tempo e ao espaço em que se deu a experiência. Não produz, portanto, conhecimentos universais e necessários.

Juízo sintético a priori: É o mais importante por dois motivos: a) não estando limitado pela experiência, é universal e necessário; b) seu predicado acrescenta novas informações ao sujeito, possibilitando uma ampliação do conhecimento. Segundo Kant, a matemática e a física são disciplinas científicas por trabalharem com juízos sintéticos a priori.

Como se formam os juízos sintéticos a priori?

De acordo com Kant, esses juízos se fundamentam nos dados captados pelos sentidos e na organização mental desses dados, seguindo certas categorias apriorísticas do nosso entendimento. O conhecimento, portanto, é uma síntese entre o sujeito que conhece e o objeto conhecido. Segundo Kant, é impossível conhecermos as coisas em si mesmas (o ser em si - nôumeno), só conhecemos as coisas tal como as percebemos (o ser para nós – fenômeno).

Essa posição epistemológica de Kant significa uma síntese entre idealismo e realismo, pois, para ele, o conhecimento não é dado nem pelo sujeito nem pelo objeto, mas pela relação que se estabelece entre esses dois pólos. O que podemos conhecer são apenas os fenômenos, ou seja, os objetos tais como eles se aparecem para nós, mas não como eles são em si mesmos.

Mas por que não podemos conhecer as coisas em si? Kant dirá que é porque nós percebemos a realidade a partir das formas a priori da sensibilidade: o tempo e o espaço. Com isso ele quer dizer que nossa capacidade de representar as coisas se dá sempre no tempo e no espaço. Essas noções são “intuições puras”, existem com representações básicas na nossa sensibilidade.

De forma semelhante, os dados que são captados por nossa sensibilidade são organizados pelo entendimento de acordo com categorias, que são “conceitos puros” existentes a priori no entendimento, tais como o conceito de causa, de necessidade e outros que servirão de base para a emissão de juízo sobre a realidade.

Destarte, Kant revoluciona a maneira de trabalhar a questão do conhecimento. Antes dele, afirmava-se que a função de nossa mente era assimilar a realidade do mundo. Nessa operação, alguns filósofos só consideravam importante a atividade mental do sujeito (racionalismo dogmático), enquanto outros ressaltavam o papel determinante do objeto real exterior (empirismo).

Através de seu racionalismo crítico (criticismo), Kant tentou formular a síntese entre o sujeito e o objeto, entre racionalismo dogmático e empirismo, mostrando que, ao conhecermos a realidade do mundo, participamos de sua construção mental, ou seja: “das coisas conhecemos a priori só o que nós mesmos colocamos nelas”.

Referência:



KANT, Immanuel. Crítica da Razão Pura. São Paulo: Nova cultural, 2005.



Dica de Leitura:



- Crítica da Razão Pura – Immanuel Kant

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