Filosofia –
Texto 17 – A Proposição – Lógica Aristotélica
A Proposição
Prof. Maicon Martta
Uma proposição é
constituída por elementos que são seus termos.
Aristóteles define os
termos ou categorias como “aquilo que serve para designar uma coisa”. São
palavras não combinadas com outras e que aparecem em tudo quanto pensamos e
dizemos. Há dez categorias ou termos:
1) Substância:
(por exemplo: homem, Sócrates, animal).
2) Quantidade:
(por exemplo: dois metros de comprimento).
3) Qualidade:
(por exemplo: branco, grego, agradável).
4) Relação: (por
exemplo: o dobro, a metade, maior do que).
5) Lugar: (por
exemplo: em casa, na rua, no alto).
6) Tempo: (por
exemplo: ontem, hoje, agora).
7) Posição: (por
exemplo: sentado, deitado, de pé).
8) Posse: (por
exemplo: armado, isto é, na posse de uma arma).
9) Ação: (por
exemplo: corta, fere, derrama).
10) Paixão ou Passividade: (por exemplo, está cortado, está ferido).
As categorias ou termos
indicam o que uma coisa é ou faz, ou como está. São aquilo que nossa percepção
e nosso pensamento captam imediata e diretamente numa coisa, sem precisar de
nenhuma demonstração, pois nos dão a apreensão direta de uma entidade simples.
Possuem duas propriedades lógicas: a
extensão e a compreensão.
Extensão é o conjunto de
objetos designados por um termo ou categoria. Compreensão é o conjunto de
propriedades que esse mesmo termo ou essa categoria designa. Ex. Extensão –
Homem, Sócrates, Paulo. Ex. Compreensão – Animal, racional, bípede, mortal etc.
Quanto maior a extensão
de um termo, menor a compreensão, e quanto maior a compreensão, menor a
extensão. Se, por exemplo, tomarmos o termo Sócrates, veremos que sua extensão
é a menor possível, pois se refere a um único ser; no entanto, sua compreensão
é a maior possível, pois possui todas as propriedades do termo homem e mais
suas próprias propriedades na qualidade de uma pessoa determinada. Essa
distinção permite classificar os termos ou categorias em três tipos:
1) Gênero: extensão
maior, compreensão menor. Exemplo: Animal.
2) Espécie:
extensão média e compreensão média. Exemplo: Homem.
3) Indivíduo: extensão
menor, compreensão maior. Exemplo: Sócrates.
Na proposição, a
categoria da substância é o Sujeito (S) e as demais categorias são os
Predicados (P) atribuídos ao sujeito. A atribuição ou predicação se faz por
meio do verbo de ligação “ser”. Exemplo: Pedro é alto.
A proposição é um
discurso declarativo que enuncia ou declara verbalmente o que foi pensado e
relacionado pelo juízo. A proposição reúne ou separa verbalmente o que o juízo
reuniu ou separou mentalmente.
A reunião de termos se
faz pela afirmação: S é P. A
separação se faz pela negação: S não é
P.
A reunião ou separação
dos termos é considerada verdadeira ou recebe a denominação verdade quando o que foi reunido ou
separado em pensamento e na linguagem está efetivamente reunido ou separado na
realidade. Da mesma forma, a reunião ou separação dos termos é considerada
falsa ou recebe a denominação falsidade
quando o que foi reunido ou separado em pensamento e linguagem não está
efetivamente reunido ou separado na realidade.
Do ponto de vista do Sujeito (S), há dois tipos de proposições:
1) Proposição existencial: declara a existência, posição, ação ou
paixão do sujeito. Ex. “Um homem é (existe)”, “Um homem anda”, “Um homem está
ferido”. E suas negativas: “Um homem não é (não existe)”, “Um homem não anda”,
“Um homem não está ferido”;
2) Proposição predicativa: declara atribuição de alguma coisa a um
sujeito por meio do verbo de ligação é.
Ex. “Um homem é justo”, “Um homem não é justo”.
As proposições se
classificam segundo a qualidade e a quantidade. Do ponto de vista da qualidade, as proposições se
dividem em:
Afirmativas: as que atribuem alguma coisa a um sujeito: S é P.
Negativas: as que separam o sujeito de alguma coisa: S não é P.
Do ponto de vista da quantidade, as proposições se
dividem em:
Universais: quando o predicado se refere à extensão total do sujeito,
afirmativamente (Todos os S são P) ou negativamente (Nenhum S é P).
Particulares: quando o predicado é atribuído a uma parte da extensão do
sujeito, afirmativamente (Alguns S são P) ou negativamente (Alguns S não são
P);
Singulares: quando o predicado é atribuído a um único indivíduo,
afirmativamente (Este S é P) ou negativamente (Este S não é P).
Além da distinção pela
qualidade e pela quantidade, as proposições se distinguem pela modalidade (modo), sendo
classificadas como:
Necessárias: quando o predicado está incluído necessariamente na essência
do sujeito, fazendo parte dessa essência. Por exemplo, “Todo o triangulo é uma
figura de três lados”, “Todo homem é mortal”.
Não necessárias ou impossíveis: quando o predicado não pode, de modo
algum, ser atribuído ao sujeito. Por exemplo: “Nenhum triângulo é uma figura de
quatro lados”, “Nenhum planeta é um astro de luz própria”;
Possíveis: quando o predicado pode ser ou deixar de ser atribuído ao
sujeito. Por exemplo: “Alguns homens são justos”.
Como todo o pensamento e
todo juízo, a proposição está submetida a três princípios lógicos fundamentais,
condições de toda a verdade, isto é, os princípios de identidade, de
contradição e de terceiro excluído (ver apostila pg.3). Graças a esses
princípios obtemos a última maneira pela qual as proposições se distinguem.
Trata-se da classificação das proposições segundo a relação:
Contraditórias: quando temos o mesmo sujeito e o mesmo predicado, uma das proposições
é universal afirmativa (Todos os S são P) e a outra é particular negativa
(Alguns S não são P); ou quando se tem uma universal negativa (Nenhum S é P) e
uma particular afirmativa (Alguns S são P). Por exemplo: “Todos os homens são
mortais e alguns homens não são mortais”. Ou então: “Nenhum homem é imortal e
Alguns homens são imortais”;
Contrárias: quando, tendo o mesmo sujeito e o mesmo predicado, uma das
proposições é universal afirmativa (Todo S é P) e a outra é universal negativa
(Nenhum S é P); ou quando uma das proposições é particular afirmativa (Alguns S
são P) e a outra particular negativa (Alguns S não são P). Por exemplo: Todas
as estrelas são astros com luz própria e Nenhuma estrela é um astro com luz
própria. Ou então: Alguns homens são justos e Alguns homens não são justos;
Subalternas: quando uma universal afirmativa subordina uma particular
negativa de mesmo sujeito e predicado, ou quando uma universal negativa
subordina uma particular negativa de mesmo sujeito e predicado.
Quando a proposição é
universal e necessária (seja afirmativa, seja negativa), diz-se que ela declara
um juízo apodítico. Quando a
proposição é universal possível ou particular possível (afirmativa ou
negativa), diz-se que ela declara um juízo hipotético,
cuja formulação é: “Se... então...”. Quando a proposição é universal ou
particular (afirmativa ou negativa) e comporta uma alternativa que depende de
acontecimentos ou das circunstâncias, diz-se que ela declara um juízo disjuntivo, cuja formulação é: “Ou...
ou...”.
Assim, a proposição
“Todos os homens são mortais” e a proposição “Nenhum triangulo é uma figura de
quatro lados” são apodíticos. A proposição “Se a educação for boa, ele será
virtuoso” é hipotética. A proposição “Ou choverá amanhã ou não choverá amanhã” é
disjuntiva.
O Silogismo:
Aristóteles elaborou uma
teoria de raciocínio como inferência.
Inferir é obter uma proposição como conclusão de outra ou de várias proposições
que a antecedem e são sua explicação ou causa. O raciocínio realiza
inferências. O raciocínio é uma operação do pensamento realizada por meio de
juízos e enunciada por meio de proposições encandeadas, formando um silogismo.
Raciocínio e silogismo
são operações mediatas de conhecimento, pois inferência significa que só
conhecemos alguma coisa (a conclusão) por meio ou pela mediação de outras
coisas. Em outras palavras, o raciocínio e o silogismo diferem da intuição que
é um conhecimento direto ou imediato de alguma coisa ou de alguma verdade.
A teoria aristotélica do
silogismo é o coração da lógica, pois é a teoria das demonstrações ou das
provas, da qual depende o pensamento cientifico e filosófico.
O silogismo possui três
características principais:
1) é mediato: exige um percurso de pensamento e de linguagem para que
se possa chegar a uma conclusão. 2) é
demonstrativo (dedutivo ou indutivo): é um movimento de pensamento e de
linguagem que parte de certas afirmações verdadeiras para chegar a outras
também verdadeiras e que dependem necessariamente das primeiras. 3) é necessário: porque é demonstrativo
(as conseqüências a que se chega na conclusão resultam necessariamente da
verdade do ponto de partida). Por isso Aristóteles considera o silogismo que
parte das proposições apodíticas superior ao que parte das proposições
hipotéticas ou possíveis, designando-o com o nome de ostensivo, pois ostenta ou
mostra claramente a relação necessária e verdadeira entre o ponto de partida e
a conclusão. O exemplo mais famoso do silogismo ostensivo é:
Todos os homens são mortais. A
é verdade de B
Sócrates é homem. B
é verdade de C
Logo, Sócrates é mortal. Logo,
A é verdade de C
A inferência silogística
também é feita com negativas:
Nenhum anjo é mortal. A
é verdade de B
Miguel é anjo. B
é verdade de C
Logo, Miguel não é mortal. Logo,
A é verdade de C
Bibliografia Consultada:
Convite a Filosofia – Marilena Chauí.
Dicas de Leitura:
Metafísica
– Aristóteles.
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