Sociedade e Natureza
Prof. Maicon Martta
A crise ambiental está ligada, principalmente, à forma como a sociedade
se relaciona com o meio ambiente. Fato que trás os problemas ambientais a uma
esfera interdisciplinar, que diz respeito também à sociologia.
O homem pertence a duas esferas, a dois âmbitos distintos: o âmbito
natural e o social. No entanto, é freqüente a negligência em relação a esse
aspecto. Por vezes, o homem esquece que pertence a essas duas esferas, e acaba
agindo como se estivesse fora do mundo, como se não fizesse parte dele, e
insistindo em ser seu Senhor.
Quando analisamos o homem como ser social, pensamos a natureza como fonte
de sustento, como recurso para nos servir e não como extensão de nós mesmos. O
homem também é natureza, faz parte dela e não é superior ou segregado a ela. O
homem tem que ter em mente que nossa espécie não é uma espécie separada e
especial, mas apenas mais uma espécie dentre tantas outras existentes.
Uma série de fatores levam o ser humano a pensar que é o senhor da
natureza. São elas: a racionalidade ( que apresenta uma contradição em relação
à irracionalidade de certos atos); a visão moderna de mundo (em que o ideal está
na industrialização e desenvolvimento focados no progresso); Na modificação
constante do meio ambiente (antropomorfismo); Nas diferentes culturas e na
Religião (que coloca o homem como um ser especial, senhor da natureza).
A racionalidade da a falsa impressão de que o homem, por ser dotado dessa
dádiva, pode qualquer coisa, ou seja, pode agir sem limites. Mas essa mesma
racionalidade, que é capaz de realizar tantas maravilhas é incapaz de levar em
consideração que não se pode mais pensar a realidade sem se levar em conta um
sistema, em que tudo está relacionado num processo de mútua dependência.
A visão moderna do mundo justifica seus atos nocivos ao meio ambiente em
pró de um progresso, seja eles, econômicos, científicos ou de infraestrutura.
Essa visão é a responsável, por exemplo, da recusa de certos países a assinar o
protocolo de Kyoto, no Japão.
A ação humana, a mudança do espaço geográfico é algo que acontece desde
tempo imemoriais. O homem sempre se adaptou ao meio, mas também sempre adaptou
o meio à suas necessidades. O alastramento das cidades, as mudanças na zona
rural, o desvio de rios para o armazenamento de água e a construção de
hidrelétricas. Tudo isso afeta o meio em que vivemos e por melhores que sejam
as intenções, são nocivos ao meio ambiente.
As diferentes culturas e religiões também contribuem para esse quadro.
Algumas culturas, protegidas por lei, têm permissão para caçar animais em risco
de extinção. Compreende-se, no entanto, que essas culturas também estão ameaças
e por isso essa determinação legal. Mas a cultura envolve mais do que hábitos,
valores e costumes de um povo. Vivenciamos uma forte influência da cultura de
mercado. De expansão econômica e tecnológica que vem ocorrendo desde o fim da
Segunda grande Guerra. Dentro dessa cultura, o avanço tecnológico e industrial
pesa muito mais do que a conscientização ambiental. De fato, as grandes
discussões relacionadas a esse problema giram em torno dessa questão. A
tentativa de descobertas de novas fontes de energias, limpa, esbarram em
burocracias que envolvem a economia e o capital.
Já na questão religiosa, as principais religiões do mundo, a saber: o
judaísmo, o cristianismo e o Islamismo, que têm sua raiz no profeta Abraão, e
nos primeiros livros conhecidos como Pentateuco. Lembramos que o primeiro livro
da bíblia que narra a criação do mundo e de tudo que existe coloca o homem numa
posição privilegiada em comparação aos demais seres criados. Lê-se no capítulo
1, verso 26: “também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a
nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves do
céu, sobre os animais domésticos sobre toda a terra e sobre todos os répteis
que rasteja na Terra”, mais adiante no mesmo capítulo lê-se: “[...] e a todos
os animais da terra, e a todas as aves dos céus, e a todos os répteis da terra,
em que há fôlego de vida, toda erva verde lhes será para mantimento”.
Percebe-se que uma cultura fortemente religiosa acaba enraizando seus
preceitos de maneira direta, mantendo hábitos que consideram naturais, afinal
sempre estiveram ali escritos, o que faz com que não se contrarie o que vem
sendo tido como tradição.
Não obstante, a relação entre Sociedade e Natureza varia de acordo com a
cultura e também a religião. Os budistas respeitam todas as formas de vida,
assim como outras religiões orientais e indígenas. Cultura diferente, diferente
relações, mas é inegável que o homem transforma a natureza e que isso, acarrete
conseqüências desastrosas para as gerações futuras.
Consciência ambiental é a palavra de ordem nos dias que seguem, é o
imperativo do novo século, basta sabermos se seremos racionais e agir como
tais, ou continuar agindo como se fossemos senhores do universo, sem levar em
consideração o Todo que depende de nós como parte.