segunda-feira, 28 de maio de 2012


Lógica Moderna e Contemporânea.

Prof. Maicon Martta

Introdução a Lógica Simbólica:



Na lógica antiga, os princípios e as leis da lógica correspondiam à estrutura da própria realidade, pois o pensamento exprime o real e dele participa. Para os medievais e para os modernos, ou clássicos (Séc. XVII), a lógica era uma arte de pensar para bem conduzir a razão nas ciências. Como arte de pensar, a lógica oferecia ao conhecimento científico e filosófico as leis do pensamento verdadeiro e os procedimentos para a avaliação dos conhecimentos adquiridos.

A lógica Moderna não era plenamente formal, pois não era indiferente aos conteúdos das proposições nem às operações intelectuais do sujeito ao conhecimento. A forma lógica recebia o valor de verdade ou falsidade com base na verdade ou falsidade dos atos de conhecimento do sujeito e na realidade ou irrealidade dos objetos conhecidos, no entanto, com menos rigor do que na antiguidade.

Já a lógica contemporânea, procura tornar-se puro simbolismo do tipo matemático e um cálculo simbólico, preocupando-se cada vez menos com o conteúdo material das proposições (a realidade dos objetos referidos pela proposição) e com as operações intelectuais do sujeito do conhecimento (a estrutura do pensamento). Em outras palavras, tornou-se plenamente formal.

Assim, como o matemático lida com objetos que foram construídos pelas próprias operações matemáticas, de acordo com princípios e regras prefixados e aceitos por todos, assim também o lógico elabora símbolos e as operações que constituem o objeto lógico por excelência, a proposição. O lógico indaga que forma deve possuir uma proposição para que:

·         Seja-lhe atribuído o valor de verdade ou falsidade;

·         Represente a forma do pensamento; e

·         Represente a relação entre pensamento, linguagem e realidade.

A lógica descreve as formas, as formas, as propriedades e as relações das proposições, graças à construção de um simbolismo regulado e ordenado que permite diferenciar linguagem cotidiana e linguagem lógica formalizada.

Boole definiu a lógica como “o método que repousa sob o emprego de símbolos, dos quais se conhecem as leis gerais de combinação e cujos resultados admitem interpretação coerente”. A lógica tornou-se cada vez mais uma ciência formal da linguagem, uma linguagem inteiramente construída por ela mesma, com base no modelo matemático, inaugurado por Leibniz no século XVII, na filosofia moderna.

A lógica simbólica ou matemática pode ser considerada, em síntese, como ciência do raciocínio e da demonstração. A lógica simbólica trata do estudo das sentenças declarativas também conhecidas como proposições, as quais devem satisfazer aos dois princípios fundamentais do modelo aristotélico seguintes:

1) Princípio da não contradição: Uma proposição não pode ser ao mesmo tempo verdadeira e falsa.

2) Princípio do terceiro excluído: Uma proposição só pode ser verdadeira ou falsa, não existindo uma terceira alternativa.

Diz-se então que uma proposição verdadeira possui valor lógico V (verdade) e uma proposição falsa possui valor lógico F (falso). Os valores lógicos também costumam ser representados por 0 (zero) para proposições falsas ( 0 ou F) e 1 (um) para proposições verdadeiras ( 1 ou V ).  As proposições são representadas pelas letras latinas minúsculas p, q, r, s, t, u.

De acordo com as considerações acima, expressões do tipo, "O dia está bonito", "3 + 5", "x é um número real", "x + 2 = 7", etc., não são proposições lógicas, uma vez que não poderemos associar a ela um valor lógico definido (verdadeiro ou falso).

Exemplificaremos agora algumas proposições com o seu valor lógico especificado ao lado.

p: A soma dos ângulos internos de um triângulo é igual a 180º (V ou 1).

q: 5 + 3 = 2 (F ou 0).

r: O sol é um planeta (F ou 0).

s: 3 + 4 = 7 (V ou 1).

Modificador Negação: dada a proposição p, daremos sua negação por ~p (lê-se não p)

Ex. p: Três pontos determinam um único plano (V).

     ~p: Três pontos não determinam um único plano (F).

Obs. Duas negações equivalem a uma afirmação, ou seja, em termos simbólicos: ~(~p)= p



Operações lógicas: As proposições lógicas podem ser combinadas através dos operadores lógicos Ù , Ú , ® e « , dando origem ao que conhecemos como proposições compostas. Assim, sendo p e q duas proposições simples, poderemos então formar as seguintes proposições compostas: p Ù q, p Ú q, p ® q ou ainda, p « q.

Essas proposições compostas recebem designações particulares, conforme veremos a seguir:

Conjunção: p Ù q  (lê-se p e q).

Disjunção: p Ú q (lê-se p ou q).

Condicional: p ® q (lê-se, se p então q).

Bi-condicional: p « q (lê-se, p se e somente se q).



Tabela de Verdade: Sejam p e q duas proposições simples, cujos valores lógicos representaremos por 0 quando falsa (F) e 1 quando verdadeira (V). Podemos construir a seguinte tabela simplificada:

p
q
p Ù q
p Ú q
p® q
p « q
1
1
1
1
1
1
1
0
0
1
0
0
0
1
0
1
1
0
0
0
0
0
1
1

Da tabela acima, infere-se (deduz-se) que:

·        a conjunção é verdadeira somente quando ambas as proposições são verdadeiras.

·        a disjunção é falsa somente quando ambas as proposições são falsas.

·        a condicional é falsa somente quando a primeira proposição é verdadeira e a segunda falsa.

·        a bi-condicional é verdadeira somente quando as proposições possuem valores lógicos iguais.

Exemplo: Dadas as proposições simples: p: O sol não é um estrela ( F ou 0) e q: 3 + 5 = 8 (V ou 1). Temos:

pÙ q tem valor lógico F (ou 0).
pÚ q tem valor lógico V (ou 1).
p® q tem valor lógico V (ou 1).
p« q tem valor lógico F (ou 0).

Assim a proposição composta “Se o sol não é uma estrela então 3 + 5 é igual a 8”é logicamente verdadeira, não obstante o conceito quase absurdo do contexto da frase.

Dica de Leitura:

- O Tractatus Logico-Philosophicus -   Ludwig Joseph Johann Wittgenstein
     

quarta-feira, 16 de maio de 2012

A Grécia foi o berço do pensamento e da filosofia Ocidental. As noções éticas, políticas, estéticas entre outros, nasceram num contexto grego, levado ao ápice por essa grande civilização e hoje, compartilhado por todo o mundo. Devemos muito aos gregos.
Hoje a Grécia enfrenta uma das crises economicas mais violentas da sua história. É estranho pensar que todo o esplendor da antiguidade grega se torne transparente e quase invisivel frente ao poder do Mercado e da Economia.

Para reflexão e instrução, abaixo segue um resumo bastante coerente da história grega. O texto não foi criado por mim, encontrei-o salvo no meu computador sem a identificação do autor e da fonte, mas achei pertinente compartilhar com todos vocês. Perdoe-me qualquer erro e fiquem a vontade a comentar, criticar e mesmo xingar se for o caso.

Prof. Maicon Martta


HISTÓRIA DA GRÉCIA




                              História Antiga  



O período inicial da história grega abrange três fases: (1) a Idade do Bronze (c.3000-c1200 A.C.), durante a qual floresceram as civilizações minoana e miceniana; (2) a Idade Média grega (c.1100-c.900 A.C.), quando se registraram vários surtos migratórios no Mediterrâneo; e (3) o Renascimento (séc. IX-VIII- séc. I A.C.), que assinala o triunfo da civilização helênica e a colonização, pelos povos da Hélade, de quase todo o mundo mediterrâneo e das costas ocidentais da Ásia Menor.



                 Civilizações Minoana e Miceniana.



Por volta do ano 3000 A.C, colonizadores procedentes da Mesopotâmia, ainda no estágio neolítico, ocuparam Chipre, Creta, algumas das Cíclades e áreas orientais da Grécia continental. Cerca de um século mais tarde foi introduzido o uso do cobre. Essa civilização, que teve como centro político e cultural Cnossos, em Creta, atingiu sua plenitude no séc. XV A.C. A antiga denominação dêsse povo é desconhecida, mas a maioria dos historiadores ,baseados em Homero, refere-se a uma civilização minoana, descendente de Minos. A escrita linear inventada pelos cretenses, com sinais para sílabas e números, ainda não foi decifrada.



Os núcleos populacionais de algumas das Cíclades e das regiões mais quentes da Grécia continental receberam a partir de 2600 A.C. novas ondas de colonizadores asiáticos, que se misturaram aos gregos ou helenos (jônios, dórios e sólidos) dando origem a uma vigorosa civilização, que floresceu em Micenas (Peloponeso), Tirinta e Pilos entre 1650 e 1125 A.C. Registros em escrita miceniana parcialmente decifrada, revelam que o grego era a língua dos governantes e que pelo menos alguns dos deuses olímpicos nomeados por Homero já eram então cultuados. O declínio do comércio com a Sicília, Tróia, Síria e Egito e o desastre iniciado com a guerra de Tróia levaram essa civilização ao colapsos.



                                       Movimentos Migratórios



À derrocada da civilização miceniana seguiram-se as migrações  que se desenvolveram no Mediterrâneo, sobre-tudo de povos oriundos do vale do Danúbio, que destruíram os estabelecimentos da Macedônia, do Epiro e de algumas áreas do mundo miceniano (aqueus, dórios, eólios e jônios). Somente Arcádia e Àtica lograram manter sua independência. A última dessas grandes migrações data de c.1000 A.C., quando os atenienses desfecharam a chamada migração jônica, concluída um século depois com a ocupação das Cíclades, dos setores central e ocidental da Àsia Menor e das ilhas adjacentes. Outros bandos estenderam essa àrea de caos à Itália, à Sicília e ao Norte da Àfrica.



            O Renascimento Grego.



Um oásis de civilização, formado pela Fenícia (v.), Palestina, Síria e Chipre, conseguiu sobreviver a êsse período caótico. Os fenícios fundaram Cartago e outras colônias e, juntamente com Chipre, renovaram o contato com as ilhas do Egeu, do Peloponeso Oriental e Atenas. Importante legado da Idade do Bonze foi a poesia épica, transmitida oralmente, e que tinha na Jônia seu maior reduto. O renascimento do espírito grego nos séc. IX a VIII A.C. foi um processo gradual, no qual a religião desempenhou papel preeminente. As tradições políticas do mundo miceniano mantiveram-se na Àtica, onde todos os cidadãos pertenciam a quatro tribos jônicas. Mais tarde, refugiados continentais organizaram seus pequenos Estados nas ilhas e na costa da Àsia Menor. Os dórios desenvolveram outro tipo de Estado em Creta e na Lacônia. Na planície do Rio Eurotas, cinco aldeias uniram-se polìticamente para formar Esparta (v.), à qual ligou-se ìntimamente o nome do reformador Licurgo e que rapidamente dominou seus vizinhos mais próximos. Dois outros Estados dóricos, Corinto (v.) e Mégara, formaram-se da mesma forma, no decorrer do séc. VIII A.C.



            A Expansão dos Estados Gregos



Os pioneiros do movimento de colonização foram os jônios da Àsia Menor que, liberados por Mileto, fundaram colônias nas costas do Mar Negro na primeira metade do séc. VIII A.C. Os jônios de Eubéia colonizaram a Ischia e a Sicília, e os das ilhas foram precursores da colonização da Trácia e da Ilha de Tassos. Os dórios do continente fundaram as colônias mais fortes . O surto de colonização continuou até c.550 A.C., quando centenas de colônias espalhavam-se na costa norte do Mediterrâneo, nas ilhas desde a Espanha ao Helesponto, no Mar Negro e na costa africana entre o Egito e Cartago. Os limites dessa área de colonização foram impostos pelos rivais marítimos dos milesianos, a Etrúria, a Fenícia e o Egito. As colônias gregas eram postos avançados da civilização helênica, radical e culturalmente fechados, de caráter nìtidamente comercial. A prosperidade súbita provocou perturbações políticas, sendo uma das primeiras a desagregação do velho sistema de aristocracia hereditária. Em Corinto, que passara a dominar o comércio ocidental, Cípselo implantou uma “tirania” que perdurou entre c.657 e c. 582 A.C., repetindo-se o exemplo em outros Estados. As dificuldades sociais decorrentes da prosperidade foram em muitos casos solucionadas por árbitros, dos quais o mais famoso foi Sólon de Atenas, nomeado em 594 A.C. Procurou Sólon ampliar a base econômica de Atenas, essencialmente agrícola e que permanecera à margem do movimento expansionista. Data dessa fase, entre 750 e 550 A.C., a adoção da moeda pelos Estados gregos.



            Conflito com a Pérsia



A expansão dos Estados gregos fôra favorecida por circunstâncias externas. Os Estados civilizados da Ásia Menor, da Síria, do Egíto, de Cartago e da Etrúria eram menos ricos e capazes do que os gregos, o que impedia a eclosão de qualquer conflito de maiores proporções entre êles. Tal situação, entretanto, modificou-se quando Ciro, o Grande, incorporou a Líbia ao Império Persa (546 A.C.). Pouco depois, em 514 – 513, Dario I (v.) obteve o contrôle das costas setentrionais do Mar Egeu, conquistou algumas ilhas gregas da Àsia Menor e do Helesponto e submeteu o rei da Macedônia. Com isso, a vida econômica de todo o universo helênico foi colocada à mercê dos persas. Por êsse tempo Esparta (v.) se tornara a maior potência grega, dominando (c.550) todos os Estados do Peloponeso (à execução de Argos) através de uma coalizão militar – a Liga do Peloponeso. Suas relações com Atenas, a outra grande potência helênica, não eram boas, o mesmo ocorrendo com diversos outros centros gregos (Argos, Egina, Tebas, Cálcis). Essa divisão do mundo helênico muito favoreceu a ação dos persas.  O primeiro esbôço de hegemonia nacional, ainda que precário, somente se desenhou entre 506-500 A.C., quando Atenas ingressou na Liga do Peloponeso. Em 498 ocorreu o primeiro choque de vulto entre persas e gregos, quando os jônios, liderados por Mileto, rebelaram-se contra o jugo de Dario I. A revolta somente foi sufocada em 494. Os persas restabeleceram  sua autoridade, estendendo-a, inclusive, à Macedônia. O esfôrço jônico, entretanto não fôra inútil, pois acordara a Grécia para o problema da união nacional, mais necessária do que nunca, ante a crescente ameaça do inimigo comum.



A guerra eclodiu em 490, quando Dario I capturou a Erétria e deportou seus habitantes. Comandados por Milcíades, os atenienses conseguiram rechaçar os agressores na Batalha de Maratona (490 A.C.). Uma revolta egípcia e outra babilônia retardaram por dez anos a nova tentativa persa, afinal iniciada (480 A.C.) sob o comando de Xerxes I (v.) que conquistou a Grécia continental até a Beócia, saqueando Atenas. As fôrças aliadas helênicas, sob a liderança de Esparta, retiraram-se para o Istmo de Corinto, e a população ateniense foi evacuada para a Ilha de Salamina. Aí os gregos se reorganizaram e partiram para a contra-ofensiva, infligindo severas derrotas aos persas em Salamina (480), Micale, Pláteia e Hímera. Pouco depois Atenas fazia uma aliança defensiva e ofensiva com vários Estados jônicos



   As Guerras do Peloponeso e o Século de Péricles.



Durante cêrca de meio século, após a derrota dos persas, o mundo helênico experimentou notável florescimento, apenas prejudicado pela primeira guerra do Peloponeso (460-445 A.C.), entre Atenas e a Confederação do Peloponeso, sob a liderança de Esparta. O séc V, conhecido como o “século de Péricles”, assinala a cristalização de tôda a cultura grega na História, no Teatro, na Filosofia, na Arte (v. Arte Grega; Clássica, Arte), na Medicina, na Arquitetura, etc. O período marca também o triunfo da democracia grega e do  imperalismo do Mar Egeu. Com suas medidas, Péricles (v.) deu a cada cidadão liberdade de língua, de educação, de pensamento político e de direito ante a justiça; aumentou o mercado de trabalho, melhorou as condições econômicas e humanizou o tratamento dispensado aos asilados estrangeiros e escravos; e juntou a tais benefícios uma Constituição segundo a qual o indivíduo estava diretamente envolvido em matéria de política e de administração. Internamente, porém, cresciam as dissensões entre Esparta, líder do bloco peloponesiano, e Atenas, esta última revigorada por sua heróica atuação durante a guerra contra os persas. A segunda guerra do Peloponeso (431-404) levaria ao colapso da civilização helênica e à sua subsequente anexação ao Império Romano. A luta, que incluiu duas fases distintas (431-421 A.C. e 413-404 A.C.), terminou com a derrota de Atenas na Batalha de Egos-Potamos. O conflito devastara a Grécia, sobretudo do ponto de vista político e econômico-financeiro.



Esparta e os Movimentos de Independência (404-371 A.C.).



 Com a derrota de Atenas, a Constituição democrática de Péricles foi virtualmente substituída pela oligarquia dos “Trinta Tiranos”, instalada com o assentimento de Esparta. Pouco depois, entretanto, 400-399 A.C., Esparta teve de enfrentar uma nova agressão persa, comandada por Ciro, o Môço, que contava então com auxílio dos lacedemônios, revoltados contra o domínio espartano. O conflito (ao qual pertence o famoso episódio da retirada dos 10 mil, narrada por Xenofonte) terminou com a ignominiosa paz de 387-386 A.C., pela qual Esparta cedia à Pérsia o controle dos Estados helênicos no continente asiático e de algumas ilhas do Mar Egeu. Essa paz determinou a perda da primazia de Esparta sobre o mundo grego, que se viu envolvido então nas lutas de independência (379-371 A.C.), ao longo das quais três forças despontaram: Tebas (v.), a segunda Confederação Ateniense e a Liga Beócia.



A Disputa entre os Poderes Dominantes e os Distúrbios Político-Econômicos (371-346 A.C.).



 Liderada por Pelópidas e Epaminondas, Tebas derrotou o exército espartano em Leuctra, na Beócia, em 371 A.C. A hegemonia tebana, porém, não durou muito, pois Epaminondas acabou vencido na Batalha de Mantinéia (362 A.C.), na qual os espartanos contaram com a ajuda dos antigos adversários de Tebas, os atenienses. Exaustos e divididos, os Estados helênicos do continente formaram então uma liga (362-361 A.C.), da qual, entretanto, ficou excluída Esparta. A época marca a ascensão da Beócia no cenário grego e o início de acirrada disputa entre os poderes dominantes, os quais, após a “guerra social” e a “guerra sagrada”, entraram em colapso quase total, ocasionando graves distúrbios políticos e econômicos no já conturbado mundo grego, agora sob a ameaça da Fócida. Pouco depois, todavia, em 346 A.C., Filipe ll da Macedônia, agindo por delegação da anfictionia délfica, esmagava por completo o poderio dos fócios. A derrota da Fócida abriu caminho ao avanço macedônio nas terras da Grécia Central e, em 338 A.C., nos campos de Queronéia, Filipe da Macedônia derrotava a oposição armada de Atenas e Espartas, insuflada pela retórica de Demóstenes.



               O Período Macedônio (338-323 A.C.).



 Logo após a vitória de Cheronéia, Filipe organizou a Liga de Corinto, liderada pelos macedônios, que incluía todos os Estados da Grécia continental européia, exceto Esparta. Seu principal objetivo era a mobilização de todos os Estados helênicos para a luta contra o inimigo tradicional, a Pérsia. Os desígnios do grande chefe macedônio foram, entretanto, subitamente ceifados, quando um de seus generais o assassinou em 336 A.C. Sucedeu-o o seu filho Alexandre lll, de vinte anos, discípulo de Aristóteles e depois cognominado Alexandre, o Grande. Durante dois anos Alexandre cuidou dos problemas das fronteiras do império e sufocou uma rebelião em Tebas. Finalmente, em 334 A.C, Alexandre, à frente de 40 mil homens, cruzou o Helesponto e, de vitória em vitória, numa extraordinária campanha militar, ocupou todo o vasto Império Persa, chegando até a Índia. Esse grande idealista, que, mesmo vitorioso, soubera reconhecer e admirar as virtudes persas, não conseguiu, entretanto, um mundo unificado sob o governo conjunto de persas e helenos, como sonhara, em virtude de sua morte prematura, aos 32 anos de idade, na Babilônia.



A Macedônia e os Estados Gregos(323-224 A.C.)



 As conquistas de Alexandre na Ásia trouxeram grande prosperidade ao Mediterrâneo Ocidental. O acúmulo de capitais permitiu a Atenas equipar uma poderosa frota e fortalecer as defesas da cidade; com isso, os demais Estados da Grécia continental usufruíram muitos anos de paz. As notícias da morte do grande chefe, entretanto, restabeleceram o clima de insegurança, abalando assim as bases da aliança com a Macedônia. Mais uma vez o mundo helênico dividiu-se em dois campos opostos: de um lado, Atenas; de outro, sua tradicional inimiga – Esparta. Os sucessores de Alexandre não herdaram sua visão política de integração dos impérios grego e persa, o que ocasionou graves perturbações na própria política interna da Hélade. As cidades-Estados gregas, já emancipadas, voltaram à luta fratricida. Diversas ligas ou federações foram então criadas visando à unidade nacional, mas todas, a curto ou longo prazo, terminaram por fracassar. Do lado macedônio constituíra-se a mornaquia selêucida, que se viu envolvida, entre 275-224 A.C., na guerra contra o Rei Pirro, de Epiro, e pelas intrigas de Ptolomeu ll do Egito, além de várias outras monarquias helênicas. Quantos aos gregos europeus, pode-se dizer que seu mais sério ensaio federalista foi a Liga Aquéia (280-146 A.C.), que reuniu quase todos os Estados do Peloponeso e algumas cidades de outras áreas, logo seguida da Liga Etólica, cujo período de fausto se estendeu de 245 a 213 A.C. Enquanto isto, com os macedônios disputando os despojos do Império Persa e os gregos ainda lutando por sua já esfacelada hegemonia interna, Roma congregava toda a Itália ao sul dos Apeninos, constituindo uma nova comunidade que seria, em breve, o novo poder dentro do mundo helênico.



                            Domínio de Roma



 De 224 a 205 A.c., os macedônios prosseguiram em sua tentativa de firmar-se no mundo grego, mas sem qualquer êxito significativo. O período de 205-146 A.C. marca o avanço dos romanos, que em 148, anexaram a Macedônia como província, esmagando dois anos depois as forças da Liga Aquéia. Posteriormente, todas as demais ligas foram abolidas e a democracia grega substituída por uma oligarquia de Estados sob a égide de Roma. Com o colapso da Liga Aquéia e a derrota de Corinto, principal foco de resistência, a Grécia passou à condição de província do Império Romano. Alguns Estados porém, como Atenas e Esparta, continuavam a manter seus direitos como civitates liberae. Os distúrbios no Império Romano passaram, todavia, a repercutir intensamente dentro do mundo grego, como aconteceu quando da primeira guerra contra Mitridates (88-85 A.C.) e do conflito entre Júlio César e Pompeu (48 AC.). Finalmente as requisições feitas à Grécia por Marco Antônio, em 31 A.C., para sustentar a sua campanha contra Otávio (futuro Augusto), constituíram o golpe de misericórdia para o país.



O Governo Imperial Romano (séc. l A.C. – séc. lll D.C.)



Ao reorganizar as províncias do Império Romano, Augusto incorporou a Tessália à Macedônia e converteu o restante da Grécia na Província de Aquéia, sob o controle de um procônsul senatorial romano residente em Corinto. Diversos Estados helênicos, incluindo Atenas e Esparta, mantiveram sua condição de cidade livre. Do ponto de vista econômico, entretanto, a nova província pouco iria lucrar. Somente no campo da cultura é que o mundo grego faria ainda valer o poderio de sua glória passada e Atenas possuía uma das principais universidades do Império Romano. Aos poucos, Roma helenizava-se, e a Grécia colhia os frutos dessa influência, sobretudo durante os reinados de Cláudio e de Adriano. Até fins do séc. lll, quando Diocleciano reorganizou o império, os gregos tiveram de enfrentar o perigo de agressões externas, a última das quais se registrou em 269 D.C. A partir de então, a Província de Aquéia (ou da Grécia) passou a ocupar uma posição de privilégio na diocese de Mésia, na época em que o Cristianismo já começara a dominar e dividir o mundo romano. 



              O Período Bizantino (séc. lll – séc. XV)



Sob Constantino, o Grande, a Macedônia tornou-se uma diocese da Prefeitura da llíria e foi subdividida nas eparquias de Tessália, Aquéia (incluindo as ilhas Jônicas e do Mar Egeu), Epiro (incluindo as ilhas de Corfu e Ítaca) e Creta, enquanto as demais ilhas gregas formavam a eparquia da Diocese da Ásia. Foi introduzida uma complexa hierarquia de oficiais imperiais e elaborado um sistema de tributação para garantir a receita. A elevação de Constantinopla à condição de capital, em 330, foi prejudicial à Grécia, obrigada a competir com um novo centro cultural. O comércio e a agricultura declinaram. Somente a cultura helênica ainda gozava de algum prestígio, elevado ao máximo durante o reinado de Juliano, o Apóstata. Durante os séc. lV e V ocorreram as invasões de visigodos e ostrogodos, comandadas por Alarico e Teodorico, de vândalos, e no séc. IV a dos hunos, em Corinto. No séc. Vll sobrevieram invasões de ávaros e eslavos. Os imperadores da dinastia isauriana (séc. Vlll – séc.  Xll) prosseguiram na tarefa de reorganização das províncias em temas (divisões administrativas), iniciada, ao que parece, pelos imperadores heraclianos do séc. Vll. Por volta do séc. X, a Grécia estava dividida nos temas de Helas, Peloponeso, Nicópolis, Dirráquio, Cefalônia e Tessalonica, além dos temas marítimos de Samos e do Mar Egeu. Com a conquista de Constantinopla pelos cruzados (1204) e o subsequente estabelecimento de um império latino, a Grécia viu-se dividida entre os conquistadores latinos e os aspirantes bizantinos ao trono imperial, disputa essa que somente terminaria em 1453 com a tomada de Constantinopla pelos turcos.



A história moderna da Grécia compreende, inicialmente, um longo domínio turco, o qual, iniciado com a queda de Constantinopla, somente terminaria na primeira metade do séc XlX, ao surgirem os primeiros sinais de indepedência. Daí em diante, a Grécia caminha para a mornaquia, passa por uma breve fase republicana e retorna em 1935 ao regime monárquico, que perdura até os dias atuais.



                Domínio Turco (1453-1821)



 Em algumas regiões (Trebizonda, Epiro, Rodes, Chipre,Creta e Tênedos), o império dos gregos ainda sobreviveu à dominação turca durante alguns anos. Quase todas as ilhas jônicas lograram mesmo escapar-lhe. Os turcos otomanos gozaram de relativa popularidade durante os primeiros séculos de ocupação, o que se deveu, sobre-tudo, à capacidade administrativa dos primeiros sultões e, também, ao caráter não-opressivo dessa ocupação, pelo menos durante a fase áurea do império, identificado com o reinado de Suleiman, no séc. XVl. Outro fator preponderante nas boas relações greco-turcas foi o sistema político otomano, adaptado às condições locais e que, ao menos em parte, conseguiu assimilar a concepção helênica de nação-Estado. Com o correr do tempo, os gregos começaram a infiltrar-se nos quadros da administração turca, e vários dos mais importantes cargos administrativos eram destinados a gregos. Todos êsses fatôres contribuíram para um clima de relativa segurança e tranquilidade, afinal rompido na segunda metade do séc. XVIII, quando do início das manifestações do nacionalismo grego, severamente reprimidas pelos turcos.



O levante do Peloponeso, em 1770, marca virtualmente o início da moderna história da Grécia. A revolta, preparada e incitada pela Rússia, apanhou os turcos de surprêsa e logrou obter um êxito inicial. Em 1774, porém, os turcos conseguiram debelar o movimento, seguindo-se então um  período de bárbaras repressões por parte das fôrças do sultão. Entre os levantes de 1770 e 1821 vários fatos históricos mudaram a situação, tornando-a favorável aos gregos, que passaram a despertar o interêsse de tôdas as grandes potências da época, sobretudo Rússia, França, Àustria e Inglaterra. A oportunidade concreta para a revolução surgiu em 1820, quando Ali Paxá (v.), governador provincial, rebelou-se contra Sultão Mahmud II. Os gregos levantaram-se em março de 1821 e a guerra prolongou-se até 1829. Entretanto, desde a Batalha de Navarino, em 1827, estava garantido o triunfo grego.



            A Primeira Fase da Independência (1829-64)



 Entre 1822, quando o Congresso de Epiro proclamou a independência nacional, e 1829, ano em que o Tratado de Andrinopla constituiu a Grécia como Estado soberano, o país atravessou uma fase conturbada, sendo o govêrno provisório exercido pelo patriota J. Capodistria, assassinado em 1831. Seguiu-se um período de caos durante o qual se registrou a ingerência de nações estrangeiras nos problemas gregos. Pela Conferência de Londres (1832), a Grécia foi definida como reino independente, sob a proteção da Grã-Bretanha, França e Rússia. Em 1833,a  nova monarquia grega passava a ser regida pelo Rei Oto, da Baviera, por imposição das potências protetoras,e no ano seguinte a capital foi transferida de Náuplia para Atenas. Oto governou até outubro de 1862, sempre assessorado por primeiros-ministros gregos, heróis da guerra da independência. Seu sucessor, o Rei Jorge I, filho do herdeiro ao trono da Dinamarca, foi escolhido conjuntamente em 1863 pelos representantes da Grã-Bretanha, Àustria, França, Prússia e Rússia.



                                   A Nova Monarquia (1863-1924)



Jorge I reinou por meio século (1863-1913), e seu reinado marcou uma nova era na história moderna grega. O período destaca-se pelos substanciais acréscimos territoriais feitos à Grécia, que ganhou a Tessália, a maior parte do Epiro grego e da Macedônia, Creta e a maioria das ilhas jônicas. Uma nova Constituição, a de novembro de 1864, abolia o Senado, substituindo-o por um Conselho de Estado nomeado pela coroa; estabelecia ainda eleições populares para a escolha dos governos locais; e, finalmente, definia a posição do rei, que seria apenas instrumento da vontade popular. Tal sistema passou à História com o nome de democracia monárquica, tendo sido aplicado por Jorge I durante 47 anos ininterruptos, até a sua revisão, em 1911. Êsse clima de estabilidade, contudo, foi por diversas vêzes abalado: em 1866, pela insurreição de Creta; em 1877-78, pela Guerra Russo-Turca; em 1896-1912, pelo levante conjunto de Creta e da Macedônia; e, finalmente, em 1912-13, pela Guerra dos Balcans, no decurso da qual o Rei Jorge I foi assassinado (1913), sucedendo-o então seu filho Constantino I.Logo após, em 1914, era a I Guerra Mundial que abalaria a estrutura do regime. Ao Rei Constantino, afastado em 1917, sucedeu Alexandre, seu segundo filho, que contou com o apoio de um dos maiores nomes da vida pública grega, o Primeiro-Ministro Eleutherios Venizelos. Alexandre morreu em outubro de 1920 e, no mês seguinte, Venizelos perdeu o contrôle da situação. A 20 de dezembro daquele mesmo ano, Constantino foi reposto no trono sobe grande emoção nacional. Em janeiro de 1921, a ocupação de Smirna, na Anatólia, por fôrças gregas, deu origem a uma catastrófica disputa com a Turquia (1921-1922). Constantino, responsabilizado pelo desastre, abdicou em favor do Príncipe Jorge, depois Jorge II. Um ano depois, todavia, a junta revolucionária do Gen. Plastiras convencia o nôvo monarca a deixar o país. Essa junta renunciou em janeiro de 1924 e, em março, a República foi proclamada, sendo confirmada pelo plebiscito nacional de abril. Seu primeiro presidente foi o Almirante Pavlos Koundouriotis, herói das guerras balcânicas.



            A República (1924-35) 



 Koundouriotis foi logo deposto (1926) pelo Gen. Theodoros Pangalos, que, por sua vez, viu-se derrubado, naquele mesmo ano, pelo golpe de Estado do Gen. Georgios Kondylis. Êste convocou novas eleições e recolocou Koundouriotis no poder. Em face da gravidade da situação política, Venizelos foi novamente chamado para o cargo de primeiro-ministro em 1928 e, um ano depois, Alexandre Zaimis foi eleito o nôvo presidente. A República parecia ganhar estabilidade e apoio popular, mas, em verdade , era profunda a dissensão entre as correntes políticas antagônicas. A posição de Venizelos foi muito abalada pela crise financeira de 1932, e uma transformação no sistema eleitoral deu ensejo à formação de diversos grupos que passaram a disputar o poder. Duas facções sobrepujaram as demais: a dos populistas, sob liderança de Panayiotis Tsaldaris e que não disfarçava sua intenção de restaurar a monarquia; e a dos liberais, chefiada por Venizelos e que se batia pela reeleição de Zaimis no pleito de 1934.



            A Restauração da Monarquia



 Em março de 1935 malogrou um golpe de Estado cujo objetivo era colocar Venizelos no poder e frustrar as pretensões realistas. Isto significou o fim da carreira política de Venizelos, tornando certo o retôrno de Jorge II, o que de fato ocorreu em fins de 1935. A monarquia foi restaurada, e a Constituição de 1927, substituída pela de 1911. A Grécia muito sofreu com a ocupação nazista durante a II Guerra Mundial quando o Rei Jorge II viu-se obrigado a partir para o exílio. Terminado o conflito, era flagrante a ascensão da influência dos comunistas, que, entre 1946 e 1949, chegaram mesmo a instalar um governo provisório nas montanhas setentrionais. Por algum tempo, os destinos da nação estiveram entregues ao arcebispo de Atenas, Dimitrios Papandreou, mas, em 1946, um plebiscito decidiu pela volta de Jorge II. Este pouco sobreviveu, sendo sucedido, em 1947, por seu irmão Paulo. A Grécia passou então a receber ajuda maciça dos E.U.A. para conseguir alcançar seus objetivos quanto a um equilíbrio econômico-financeiro. Apesar disto, ao longo dos últimos 20 anos, o país vem tendo de enfrentar sucessivas crises políticas e internacionais. A questão de Chipre, por exemplo, tem contribuído muito para a debilitação do regime, já de si conturbado por graves distúrbios internos. As eleições de 1964 deram significativa maioria parlamentar a Georgios Papandreou; nesse mesmo ano, entretanto, morreu o Rei Paulo, que foi sucedido no trono por seu filho Constantino. O nôvo monarca demitiu Georgios Papandreou, substituindo-o por seu filho Andreas, e, em dezembro de 1966, autorizou Ioannis Paraskevopolos, presidente do Banco Nacional, a formar nôvo gabinete. Em março de 1967 o govêrno renunciou, assumindo como primeiro-ministro Panayotis Kanellopoulos, líder da União Radical Nacional. O Parlamento foi dissolvido a 14 de abril, a 21 um grupo de militares derrubou o govêrno, aparentemente à revelia do rei, ocupando Atenas. Sob pressão, Constantino II concordou em apoiar o nôvo regime, chefiado por Konstantinos Kollias. A 13 de dezembro, após uma tentativa frustrada de retornar o contrôle da situação, o Rei Constantino abandonou o país. Tornou-se primeiro-ministro o Cel. Georgios Papadopoulos, sendo o Gen. Georgios Zoitakis nomeado para a regência do trono. Em 1968, após o plebiscito de setembro foi promulgada a nova Constituição.